quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Mensagem de fim de ano

Engraçado, esse é o segundo ano que termino lendo Caio Fernando Abreu (agora também lendo a Hilda Hilst). E ontem, lendo Fragmentos, uma frase dele me despertou um grande conforto:


"Te desejo uma fé enorme, em qualquer coisa, não importa o que, como aquela fé que a gente teve um dia, me deseja também uma coisa bem bonita, uma coisa qualquer maravilhosa, que me faça acreditar em tudo de novo, que nos faça acreditar em tudo outra vez, que leve para longe da minha boca este gosto podre de fracasso, este travo de derrota sem nobreza, não tem jeito, companheiro, nos perdemos no meio da estrada e nunca tivemos um mapa algum, ninguém dá mais carona e a noite já vem chegando."

É Caio F, o que seria se eu não lesse nada seu? rsrsrs. Sem dúvidas você está entre os meus mais queridos de tudo que até agora conheci na literatura. O ano de 2012 está chegando e acima de tudo desejo a todos...

"Que Seja Doce" 



E aos meus amigos que ficaram marcados e conviveram comigo esse ano inteirinho, Fernanda Nunes, Paulos Araujo, Karina Flores Sampaio, Marta Rodriguês, Cris Moreira e tantos outros! "We Are The Champions My Friends" Beijos à todos, a todos, a todos.

Atenciosamente, Claudemir B.

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Correspondências de fim de ano





Conheci a Hilda Hilst lendo Caio Fernando Abreu. Ontem terminei de ler o primeiro livro dela que tive a coragem de me aventurar na sua literatura, O Caderno Rosa de Lori Lamby. Haja fôlego para ler, pelo menos esse livro. Conteúdo denso, e te grande teor obsceno. Mas muito bom!!! Em baixo segue a carta que havia lido, e me interessado pela Hilda. O mais incrível é que ele fala da Clarice Lispector que amo-a também. Tive orgasmos literários hoje! e olhando videos no you tube, como não bastasse encontro o Zeca Baleiro e a Zélia Duncan falando da mesma!

Carta - 1970

"Hildinha, a carta para você já estava escrita, mas aconteceu agora de noite um negócio tão genial que vou escrever mais um pouco. Depois que escrevi para você fui ler o jornal de hoje: havia uma notícia dizendo que Clarice Lispector estaria autografando seus livros numa televisão, à noite. Jantei e saí ventando. Cheguei lá timidíssimo, lógico. Vi uma mulher linda e estranhíssima num canto, toda de preto, com um clima de tristeza e santidade ao mesmo tempo, absolutamente incrível. Era ela. Me aproximei, dei os livros para ela autografar e entreguei o meu Inventário. Ia saindo quando um dos escritores vagamente bichona que paparicava em torno dela inventou de me conhecer e apresentar. Ela sorriu novamente e eu fiquei por ali olhando. De repente fiquei supernervoso e sai para o corredor. Ia indo embora quando (veja que GLÓRIA) ela saiu na porta e me chamou: - “Fica comigo.” Fiquei. Conversamos um pouco. De repente ela me olhou e disse que me achava muito bonito, parecido com Cristo. Tive 33 orgasmos consecutivos. Depois falamos sobre Nélida (que está nos States) e você. Falei que havia recebido teu livro hoje, e ela disse que tinha muita vontade de ler, porque a Nélida havia falado entusiasticamente sobre Lázaro. Aí, como eu tinha aquele outro exemplar que você me mandou na bolsa, resolvi dar a ela. Disse que vai ler com carinho. Por fim me deu o endereço e telefone dela no Rio, pedindo que eu a procurasse agora quando for. Saí de lá meio bobo com tudo, ainda estou numa espécie de transe, acho que nem vou conseguir dormir. Ela é demais estranha. Sua mão direita está toda queimada, ficaram apenas dois pedaços do médio e do indicador, os outros não têm unhas. Uma coisa dolorosa. Tem manchas de queimadura por todo o corpo, menos no rosto, onde fez plástica. Perdeu todo o cabelo no incêndio: usa uma peruca de um loiro escuro. Ela é exatamente como os seus livros: transmite uma sensação estranha, de uma sabedoria e uma amargura impressionantes. É lenta e quase não fala. Tem olhos hipnóticos, quase diabólicos. E a gente sente que ela não espera mais nada de nada nem de ninguém, que está absolutamente sozinha e numa altura tal que ninguém jamais conseguiria alcançá-la. Muita gente deve achá-la antipaticíssima, mas eu achei linda, profunda, estranha, perigosa. É impossível sentir-se à vontade perto dela, não porque sua presença seja desagradável, mas porque a gente pressente que ela está sempre sabendo exatamente o que se passa ao seu redor. Talvez eu esteja fantasiando, sei lá. Mas a impressão foi fortíssima, nunca ninguém tinha me perturbado tanto. Acho que mesmo que ela não fosse Clarice Lispector eu sentiria a mesma coisa. Por incrível que pareça, voltei de lá com febre e taquicardia. Vê que estranho. Sinto que as coisas vão mudar radicalmente para mim – teu livro e Clarice Lispector num mesmo dia são, fora de dúvida, um presságio. Fico por aqui, já é muito tarde. Um grande beijo do teu"

Caio F.
 
 

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Nossos Olhos vêem!!!
























São Cores do Arco-Íris, 
São Cores do Espectro Eletromagnético da Luz no Vísivel,
 São Cores de Álmodòvar

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Olhos e Insetos


Poema Antropófago


Fragmentar-se em mil pedaços
Metamorfosear-se em Clarice Lispector
Sofrer a Paixão Segundo G H em Franz Kafka
Ensaiar a Lucidez por Caio Fernando Abreu
Contar uma História de Borboleta sendo José Saramago
Ser Pessoa em Mário de Sá-Carneiro
O outro em Bernado Soares
Um Retrato de Dorian Gray por Edgar Allan Poe
Morar na Casa Usher com Oscar Wilder
Queimar livros com Adous Huxley
E admirar um mundo novo por Ray Bradbury
Viver nos tempos da Laranja Mecânica com George Orwell
Consagrar a Revolução dos Bichos por Anthony Burgess
Lapidar a pedra e cavar a cova
Ver o Por do sol com Lydia Fagundes Telles
Ser emparedado e ouvir o miado do gato preto
Ser eu e tantos outros
Fazer de mim o que não fui
E ser fragmentos de outras vidas.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Relato



“Por que publicar o que não presta? Por que o que presta também não presta. Além do mais, o que obviamente não presta sempre me interessou muito. Gosto do modo carinhoso do inacabado, daquilo que desajeitadamente tenta um pequeno vôo e cai sem graça no chão.” (Clarice Lispector – A Legião Estrangeira)


Olá Senhor Camargo, sinto lhe informar por viés de escolha este seguinte texto. Desculpe a formalidade e a maneira ao qual irei desencadear o seguinte assunto referente a nós dois. Escolho me expressar por essa maneira, pondo neste papel todos os meus sentimentos. À medida que irei conduzindo o assunto, espero que fique claro tanto pra mim, que sou o emissor, quanto pra você, ao qual será o receptor. Desejo no fundo de nossas almas, o que tenho a lhe dizer são apenas meros sentimentos humanos e insatisfações emocionais que estamos sujeito a ser submetidos, na estrada de nossas vidas. Espero que em nenhum momento sinta-se ofendido, ou algo do gênero.  Apenas o que tenho a dizer, era o que não teria coragem de falar de coração aberto, olhos nos olhos. Mas sinto-me lhe informar que sou homem o bastante de olhar nos seus olhos e dizer, ou tentar dizer, o que lhes vou dizer daqui em diante. Para isso, na ausência de tentar me expressar em gestos, utilizarei de metáforas, de referências e de conhecimento de mundo.  Você deve achar neste momento que estou enrolando em falar no assunto. Isto é fato, tenha certeza disso, mas não irei demorar. Há um preparo, meio como um ritual sagrado. As palavras serão lapidadas em nossas mentes, se organizarão e depois serão soltas como pássaros, sem medo de cair.  Seguirá seu rumo, tendo como objetivo a meta alcançada.  Tanto pra mim, quanto pra ti.
Escrevo este texto com objetivo artístico literário. Isto é, posso revelar essas singelas palavras para outras pessoas. Diria, digamos, que eu esteja escrevendo um conto, posso brincar de ser narrador. Posso fazer com que as pessoas que lerem, achem que você seja mera fantasia. E que todas estas palavras sejam apenas um ensaio sobre o que lhes vou dizer. É óbvio que você saberia a total verdade, pois receberá de minhas mãos este texto. Você pode até provar que é real, e não apenas um personagem fictício do universo do narrador. E para ajudar, posso até dizer que escrevendo sobre o que lhes vou dizer, torna-me cada vez mais um caso desnecessário. Isso me obriga a me posicionar e controlar cada palavra. Muita gente deve está pensando agora, mas afinal é real ou fictício, o Sr. Camargo? Se os meus amigos mais íntimos lessem, eles diriam que é real. E eu vós digo, contrapondo: o nome até pode ser, mas podem também ser apenas meras coincidências. O que não impediria. E os que não me conhecem, poderiam dizer que você é fictício. Isto é, não deixaria levar e cair na brincadeira do narrador. Os mais acadêmicos pesquisariam. Chegariam a três conclusões: a primeira, você, Sr. Camargo, é fictício, pois tendo como referência a outros estudos literários, por exemplo, a obra do escritor Machado de Assis, no seu romance, Dom Casmurro, o narrador coloca-se como primeira pessoa, o que não levaria a nenhuma conclusão se Capitu traiu ou não bentinho. Olha que coincidência. Utilizo a primeira pessoa também. A segunda, você, Sr. Camargo, é real, pois investigando sobre a vida do autor, teríamos relatos de que muitas das artimanhas produzidas pelo escritor, poeta, cantor ou compositor, podem refletir a vida do artista. O que posso usar como exemplo são os contos do escritor, Caio Fernando Abreu. E a terceira, você, Sr. Camargo, ficaria no meio termo, ou seja, não daria para concluir nada a seu respeito. O que levaria os críticos a pensarem que das três possibilidades, esta seria a melhor das conclusões. Agora, direcionando diretamente pra você senhor Camargo, o que posso lhes contar, ou o que você espera ler, são fatos, relatos da história de nós dois.
Tu és um homem de estatura média, olhares penetrantes, boa aparência, astuto e bom companheiro. Adora sair para apreciar espetáculos cênicos, performances e danças. É educador, pedagogo. E tem uma criação de galinhas. Sistemático, gosta que as coisas sejam bem programadas e planejadas com um bom tempo de antecedência. Mas não conheço nada mais além do seu universo, somos simples amigos que estamos nos conhecendo ainda. Tenho o tempo de se aventurar em seu mundo, e como narrador deste relato que ainda tenho a lhes dizer, posso criá-lo, ou recriá-lo. Não penses tu, que irei deixar de descrever o que tenho a lhes dizer, faço este texto, em especial pra ti. No pouco tempo que nos conhecemos, você despertou muita inspiração. E não penses tu que as inspirações são boas, digo no sentido de que as formam. Muitos casos, elas vêem sempre nos instantes de tédio, desprezo, descontentamento e falta de afeto. Será este o seu caso, como de tantos outros. Mas receio lhe informar, que dessa vez há um que de diferente, algo novo que torna-se distintos dos outros relatos. A situação está esclarecida. Digo a você, que sobre o meu seguinte relato, muitas das frases pensadas, prontas para serem depositadas e lidas, se perderam nos meus pensamentos. Pensar em ti, e na seqüencia falar contigo, fez meus pensamentos fic arem sol tos. Fluírem melhor, e sintonizar novas idéias.
O relato de minha vida, ou de nossas vidas, é isso que tenho a lhes dizer. O ritual já está por terminar. As idéias já estão se concretizando. E o narrador já não encontra outro caminho de fuga. Peço a vossa excelência que fique atento em ler os seguintes relatos. Esta é a história de um homem, cuja plenitude contará os relatos de nós dois. Pra você, Sr. Camargo, isso torna-se uma ficção. Como eu estou pensando agora. O narrador encontra-se confuso entre real e fictício. E com sua confusão e poder de persuadir, leva os leitores a se confundirem também.  Mas este não é o seu objetivo, e sim relatar o que tenho a lhes dizer.  Os fatos são simples, o que complica é as escolhas de palavras e a construção da idéia, mas prepare-se, pois o que direi, refere-se a nós dois. Poderia começar a relatar, de como estamos nesse momento, ou como estávamos à duas semanas atrás, assim como também como tudo começou. Seria necessário antes uma sucinta descrição sobre nós. Á você, já tive o que relatar. Agora resta à mim. E este é o momento mais delicado. Pois o narrador pode tornar-se claro diante o leitor. E isto revelaria a sua natureza. O que mostraria se é a mesma do escritor ao qual está escrevendo este texto.
Digo-lhe Sr. Camargo, fragmentos de mim, relatos da minha vida, quando esta passou a interagir com a tua. Embora antes, peço permissão a descrever-me brevemente, revelando assim a cara do narrador. Sou branco, estatura média, gordo, afeminado e careca, adoro rock, MPB e eletrônica. E o narrador encontrando uma fuga, poderia descrever da mesma forma que era moreno, alto, magro de cabeços cacheados, adora sertanejo de raiz, samba, MPB, Rock e sair para apreciar espetáculos cênicos, o que levará, evidentemente uma maior chance do leitor acreditar, pois assim haveria interesses mútuos. E como dirijo este relato a ti, evidentemente você saberia como sou. Mas o que ainda não sabes, é como penso.  E como tenho que lhes dizer o assunto referente a nós dois, e que meio provável, isto  seja a primeira coisa a ler a respeito de mim, ajudaria você a ter uma melhor idéia de como compartilho esse mesmo universo. O que vou dizer, tem como começo, o instante que trocamos olhares pela primeira vez. Mas para falar disso, gostaria que tu soubesses o que desencadeou até chegar nesse exato ponto. Como podes lembrar, era noite de sábado, meados do mês de setembro.
O dia amanheceu ensolarado. Sem propósito para este dia, estava em casa como de costume, nos sábados que folgava no trabalho. Pensava em sair à noite. Durante a tarde fui convidado a participar de um evento educacional em comemoração a Paulo Freire, uma ONG ao qual minha irmã fazia parte e era a presidente, convidou-me para ir com ela. Esta ONG trabalha com projetos voltados a educação de jovens e adulto e meio ambiente. No fim do evento, liguei para uma amiga e perguntei a ela se iria no espetáculo de teatro de um conhecido nosso. Como ficou muito encima da hora, tanto pra mim que acabei saindo tarde do evento e para ela que esperava a confirmação de alguém pra não ir sozinha, acabamos improvisando um outro encontro. Ela teria algo a me dizer, e eu também. E como imaginava o assunto, escolhi o lugar mais almodoviano para este encontro. Praça do Arouche. E foi por horários avançados que nossa historia começa a ganhar forma. Estávamos esperando um amigo no tardar das horas, e resolvermos dar uma volta pela praça à procura de um barzinho legal que tocasse MPB. Caminhávamos pela rua, olhos me olhavam, pontes construíram durante o percurso. Sentia-me a vontade pela escolha do ambiente, e pelo momentos que estava passando. Caberia para isso outra história, e convidaria você para ler meus outros textos. Se afinal não sabes de mim, o que escrevo são meros fragmentos de minha vida. Você faz parte dela. Não são histórias grandes mais momentos grandiosos que tenho guardado como registro. E por fim, passamos diante um bar, que por inexplicáveis razões, meus olhos voltaram-se aos seus. A sensação que tive, foi que todas aquelas pessoas, sentadas em suas cadeiras, por momentos de epifania, ficaram em preto e brando, e você o único colorido naquele ambiente. Mas eu e minha amiga, Karla, cruzamos o bar, não lembro-me que música tocava, mas obviamente não nos agradou. Chegamos ao bar do lado, e último da esquina, e infelizmente não encontramos um que tocasse “boa música”.  Resolvi falar com Karla em voltarmos no bar anterior, pois meu interesse por ti aumentava cada vez mais. E por fim, começa a nossa breve história. Sentamos numa mesa na área de fora, de tal forma que eu ficasse posicionado de frente a você. Não tive dificuldade de comunicá-lo, pois já o via olhando pra mim. E seus olhos propagaram como palavras em seu interesse por minha pessoa. Assim como meu sorriso por ti, que fluíram como prosas. Aqueles instantes foram tão adoráveis e agradáveis, que sentia-me preso ao seu olhar.  Isso me enriqueceu e me elevou a um alto desejo. Desde o inicio mês de agosto não via possibilidades de me envolver com alguém, estava entediado com problemas repetidos e mal superados. E o que tenho a lhes dizer, por obséquio, não é necessariamente a história de nós dois, mas a respeito de nós dois. E diria que o ritual já está terminado, já estou preparado em vós dizer, o que quero lhe comunicar. Esta é a história de um homem sincero, honesto e ávido. São relatos de uma prisão que carrego comigo, não consigo tirar as algemas. Estou excessivamente preso a minha emoção, aos meus desalentos e desencantos. Nos intervalos de emoção, me elevo ao mais profundo abismo. Ódio de ser o que sou, de querer  ter o que não posso, de conseguir o que não está no meu alcance. Sinto-me metamorfoseado num monstruoso inseto, como Gregor Samsa se tornou. Preso a sua vontade e classe. Mas o que lhes vou revelar, são apenas meros rebuliços de meus sentimentos promíscuos. Sinto-me lhe informar que desejo de você apenas sinceridade, e companheirismo. Que seja claro e objetivo no que queres, no que procuras e no que desejas. Acima de tudo procuro uma boa amizade, um bom amigo para ouvir sobre meus desânimos. Não quero que me julgue, e compare com os outros, quero somente ser o que sou, um menino frágio, gentil e ousado. Sentimental e que se apega facilmente a quem desperta seu interesse. Tu deves estar pensando que sou mimado, egocentrico e complicado. Pode até ser que seja, mas ser considerado como segunda opção, nunca. Tratado como mais ou menos, um conhecido da esquina, um moleque qualquer de boa aparência, não é isso que desejo. Tenho meu universo e gosto de compartilhar. A você já não limito saber nada.
O narrador encontrou-se num barril sem fundo. Revelou suas inquietações, e sua identidade. Mas é fato que seus pensamentos ainda estão confusos. Ele mergulhou em relatos vividos. Trouxe experiências, mas privou a falar somente daquele dia em especial. Não sabemos o que ocorreria anteriormente e o que levou a estar naquele ambiente. E este narrador, que é o mesmo que agora escreve em terceira pessoa, tens muito a lhes dizer. Digo, a você Senhor Camargo.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

O Rosto


somos

Somos uni-multiplos neste universo. 
O tempo que passa, 
a dor que sente, 
o olhar que pisca. 
A arte que revela,
a morte que prossegue,
e a vida que se constrói. 
Somos a música cantada,
o poema falado,
e o corpo que dança. 
Em união somos a natureza que transforma, 
a razão que se perde
e a emoção que renova. 
Somos sentimentos alegres, 
descontentes e referentes. 
Revivemos a cada dia,
morremos a cada instante.
Tempo prega,
tempo passa, 
tempo muda.
Tempo,
tempo
e tempo.
Suspiro longo,
lento 
e lerdo.
Saudade de ser criança, 
para criar,
gritar 
e chorar.
Saudades de memórias póstumas que vão além dos sonhos.
Acordar e perceber que o tempo continua a passar,
e que em um instante qualquer, não mais existirá.
Enfim, somos vida e morte.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

No momento sou um ser que age com as emoções

No momento sou um ser que age com as emoções. “Sou um animal sentimental que me apego facilmente”. Busco carinho, afeto, exijo consolos e atenções. Procuro conversar, fazer amizades, entender quem somos a partir do outro, de analisar o outro e conhecer a ti mesmo. Sou sincero, honesto. Facilmente explodo de emoções. Caminho com grandes amigos, compartilho meu universo com os deles, busco compreender cada peça de mim para o outro. Gosto dos meus amigos porque vivo com eles. Eles libertam-me para os mais altos desejos, buscas e opiniões. Canto, danço, e leio meus amigos. Faço uma breve leitura deles, e eles de mim. Vejo nos olhos suas inquietações, suas vontades reprimidas, seus desejos cobiçados. Canto eles, eles me encantam. É um vai e vem de grandes prazeres. Na noitada, nos encontros em bares, cinemas, teatro, falamos, brigamos, sorrimos. Convidamos um ao outro para sair, assistir filme em casa, ou até mesmo somente jogar papos fora pelo “face”. Sou extrovertido com pinceladas de timidez. Para muitos meu sorriso é de puro espírito, para outros, meramente agradável. Tenho compaixão, afeto, ternura. Gosto de brincar, de tratar as pessoas com seriedade, e com muito humor. Me contradigo muito com as coisas que penso e ajo. Tenho um desejo insaciável de conhecer o mundo, das artes, das ciências, dos seres humanos. Entender cada passo, subvergir cada idéia, interferir em cada relação humana.
Trago comigo a solidão por estar entre amigos, e a comunhão por está só. Sempre tive a sensação de ser tratado como mais ou menos, colocado como segundo plano, ser considerado médio. Não quero isso pra mim, chega. Meu pensamento está congestionado de tanto fantasiar amores falsos, e amizades verdadeiras. Estou como um mar em transe, como uma corrente de convecção subindo e borbulhando no mais alto pódio. Aqueça-me com palavras, esfria-me com o silêncio. Leva-me ao vento num simples movimento.
Sou aquariano e não compreendo. Já procurei explicações, já me comparei com outros do mesmo signos, e nada vem a somar os por quês de vez em quando me encontrar num mar de subjetividade. Quantos somos nesta nau? Faça-me sentir. Mostra-me um horizonte, sei que existem vários. Sinto a necessidade de ser guiado, mas ao mesmo tempo de está livre, voar e se perder pra sempre. Contudo tem sempre algo que nos orienta, não é Deus, uma porque, quem é ele? outra por que, não trato nada como divino, e sim como uma mera situação sem resposta, que não está no plano da razão. O mal de muitos é considerar o divino como algo sagrado, superior e soberano. Foi assim que o homem inventou deus e deuses, ele se questionou sobre a sua origem, e como uma das respostas: “...fui criado pelo barro”.
Sou um ser antropófago, na verdade, somos todos. Isto é, nenhuma coisa que tenha dito, seja inédita. Sou fruto de tantos outros, sou referencias, correspondências, somos pedaços de músicas, de filmes, e de livros. Não é à toa que sempre nos reconhecemos em algo que foi lido, assistido e falado.
Particularmente sou quieto quando estou diante de muita gente. Nunca tive a pretensão de chamar atenção, ser ouvido, ser considerado o foco. Sinto-me muito excêntrico para isso, detesto pessoas que acham o conhecedor e tentam demonstrar isso. Não confunda-me desta forma, apenas mostro e demonstro que tenho o interesse, ao contrário daquele que demonstra que sabe. “transito entre dois lados de um lado, eu gosto de opostos, exponho meu modo me mostro, eu canto pra quem?”
Sofro pelo mal do amor, das decepções, das desilusões como qualquer um. Sei o que quero, o que gosto e o que busco. Apaixono facilmente por quem demonstra afeto e torno “eternamente responsável por aquilo que cativo”. Gosto das pessoas que tenham um universo (ou vários) para me apresentar. Seja qual for sua opinião, religião, e etnia, somente que transforme o mundo, e que  tenham bom senso para o livre arbítrio, sem condenar o outro.
Sou assim, palavras cruzadas, entrelaçadas, transformadas e reformuladas. Mas não esqueço que posso saber muito, muito mais de mim. Pois tenho somente 21 anos de idade, se viverei muito mais tempo, com certeza espero que o tempo aguarde novas novidades.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Minha paixão pelo Teatro











Reflexão sobre a Arte

Hoje acordei com a melhor sensação do mundo. Acordei pensando na arte, nos meus amigos, nas minhas escolhas. Refletir em frações de segundos em tanta coisa. Obrigado amigos, obrigado grupo Enchendo Laje & Soltando Pipa. Quero continuar com essa jornada, jangada até os dias imprevisíveis. Muito prazer em fazer parte de uma rede de amigos que compartilham gostos em comum, que lutam pela mesma causa e que acreditam nos mesmos objetivos. Que faz, produz arte, que acredita na arte, como forma de mover grandes massas da população.
A arte é bela. É umas das coisas mais gratificantes dos seres humanos. Ela revela seu olhar para o mundo, sua linguagem para os seres humanos. Ela cria uma realidade dentro da realidade. Forma sonhos, revela sentimentos, cria sensações das mais diversas. Oscila no tempo, forma opiniões, criticam comportamentos. Transformam a humanidade e trazem consigo tudo aquilo que for ordenado. A arte vem para quebrar barreiras, modificar padrões impostos. Criam as mais diferentes formas. Reformulam conceitos, teorias e práticas. A arte revela ao mesmo tempo o estranhamento, o ruído, a agonia e a tensão. Ela trás as angustias humanas, e os nossos desejos. Mas também ela idealiza nossas maiores vontades. Está próximo dela é “transformar o tédio em melodia” é “Ser artista em nosso convívio. Pelo inferno e o céu de todo dia”. Sem ela o mundo fica pobre, sem cor e doente.
A todos aqueles que de certa forma está envolvidos nessa questão, parabenizo pela escolha. Fazer teatro, dança e música não é fácil, também não é dom, é experiência. É aprender com o próximo sobre você mesmo. É você ir se descobrindo à medida do tempo. A arte fala quem somos, o que pensamos, e o que desejamos. Ela é bela, magnífica e extraordinária. É o ato de encenar, e buscar um ser que não habita em você, mas que mesmo assim é um pedaço de você, que vai ser descoberto ao longo do tempo. É o ato de unir a música para a arte cênica, e a despreocupação da afinação.
Está diante do espectador, é ter uma sensação incrível. Subir ao palco e presenciar aquele público apreciador. É mostra à eles o trabalho de anos de pesquisa. É revelar as mais diversas pessoas, que finalmente a arte foi posta diante os seus olhos. Tudo isso só demonstra que a arte é sem dúvida, umas das linguagens mais belas criadas por nós, europeus, africanos, americanos, asiáticos, e os demais povos de grandes massas continentais.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

MORFOFAGIA



Antropofagia                                                                                                     
fagia,
antropo,
fagi'ntropo,
antropofagia,
a n t r o p o f a g i a,
antropofagia,
fagi’ntropo,
antropo,
fagia,
antropofagia
antropofagia
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fagi'ntropo,
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segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Em homenagem aos meus amigos, Fernanda, Paulo, Anderson e Karina

A vida é bela, é doce, é espontânea!
A vida carrega surpresas, novidades, e descobertas;
A vida é ávida, vamos brindar à vida!
A vida é um começo de amizade que é desfrutada;
É um filme, um seriado, um livro;
É um andar pelo mundo vendo cores, é um auto-retrado de Frida;
É uma música cantada, recitada e esquecida;
É querer estar preso por vontade;
É um andar solitário entre a gente;

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Pen s am ento s s olt os,


Pen s am ento s s olt os,
Pa lavr as cru zad as e entre las çada s;
Ana grama s por for mare m no vas pal avras,
Fras es aber tas,
Qu e conver gem num a única idéia.
Que é fazer poesia.

Cada um de nós é uma alma fatiada do Caio Fernando Abreu

      Meus Parabéns Caio, Amo-o. Você foi a minha inspiração por todos os meus tempos de descobertas, você fez eu enxergar um mundo cheio de cores e ao mesmo tempo vazio, um mundo de descobertas, cheios de cores de Álmodòvar, um mundo que me acolheu. Seus contos foram profundos, atravessaram a minha alma, seus sentimentos refletiram nos meus. Fui enfeitiçado pela sua literatura, me vi em vários excertos seus, me identifiquei em muitos dos seus textos. Compartilhei muitos dos seus dramas, estive ao seu lado o tempo todo, sentia a tua presença, mesmo que você já não está em nosso mundo, mas você está vivo, no meu coração, na minha alma, nos seus contos. Você caminha por esse mundo, ao lado de outros, sinto você a todo momento, nas outras pessoas que já foram, e nos que estão ainda presentes.  
     Ele está morto, é fato! mas ele vive em minha alma, portando está vivo! entende? me identifico mto com ele, a sua obra está viva, seus excertos estão vivos, O vivo pode apresentar de maneira desmatearizada. Quando o leio, parece que estou a conversar com ele, entende? rsrs. Sim, concordo! mas quando ele deixou imortalizado seus fragmentos, nos poemas, contos e artigos, A sua alma se espalhou em cada um de nos, e numa data como esta, parece que estamos a juntar todos os seus pedacinhos e reconciliando a sua forma. entende? Ele não está presente, mas todos nós juntos, somos ele! Bendita seja esta data, felicidades Caio, você está imortalizado por todos nós. 




Dias melhores


"Uma vez amei, julguei que me amariam, mas não fui amado. Não fui amado pela única grande razão - Porque não tinha que ser." Alberto Caeiro
E assim começou um novo ciclo
Mês das flores e da primavera chegando. Setembro aberto com chave de ouro. Bom começo de mês, cheios de tarefas, boas distrações e novas descobertas. Grandes eventos, casamento maravilhoso, e felicidades por estar entre amigos e familiares. Alta-estima recuperada, vontade por está vivo e viver a vida. Curtições e desejos momentâneos atingidos. Semanas curtas e bem aproveitadas. Assim foi o começo do mês, depois de passar longos períodos à espera do mês d’gosto, cruel e congelado passar.
República, depois das 20 horas, somos acolhidos. Cenário de “La Mala Educación”. Sinta-se à vontade, pertence-se a esse mundo. O ambiente é nosso. Sinta-se em casa, a estação é o encontro. Há uma grande divergência de gente que se convergem no final da rua. Praça do Arouche, o prazer é todo meu. Visão cinematográfica, e não só vista somente no filme, mas vivido realmente por cada passo meu. Pessoas a cruzarem meu caminho, passos simples, andares complicados e vozes a se confundirem. Aglomerados de gentes nos bares da esquina. A noite só estava começando, e mais uma balada virá. Atentos para o horário, que o festival vai esquentar e explodir ao som da música eletrônica, guiadas pelos DJs. Meu corpo foi movido por essas novas sensações, a cada vibração da música, meu corpo se reconciliava. A dança deixava meu corpo sem peso, sem o fardo carregado pela opressão. Sentia-me livre a cada movimento, meu corpo gritava em prol da liberdade. “Quero ser livre”, “livre”. Estou conhecendo o ser que abriga dentro de mim. Ele quer se expor, ser o mais natural. Ele é minha imagem, revelou-se diante a música e o ritmado som ondulado sobre o ambiente. Ele sai sem ser percebido e toma todo meu corpo. Gosto dele, e quero entregar-me a ele, mas claro, continuando a ser sempre o mesmo que fui. Só ocorreu que um novo ritmo de música me conquistou, pois sentir a sua harmonia. Ela refletiu na alma, foi barrada, capturada, detectada e incorporada no meu ser. Vivo num mundo contemporâneo, é esse meu cenário. Ressoam ruídos sonoros, sons remixados, comunicações virtuais, redes sociais, páginas e páginas da web.  
Bendita geração do futuro, em diálogo com a do passado. Queira ou não, a música está em primeiro plano, depois o cinema, a literatura, mas acima de tudo a ciência, as descobertas, as tecnologias e a rapidez com que isso se processa. Admirável mundo novo pelo quais muitos valores do passado já foram perdidos, ultrapassados e esquecidos. Amizades virtuais, perdas das pontes dos olhares. Embaralhamento das noções de distância, tanto faz está a um quilometro, quanto à mil. Redes sociais ao auge por muitos. Está conectado vinte quatro horas, esperar correspondências, mensagens de e-mail. Isso é o agora, de 2011. Com certeza vai mudando no decorrer do tempo, daqui não sei quanto tempo haverá, mas vai ter outra febre. Terão vários setembros. Vários serão os anos, os dias, as horas. Várias serão as decepções, as desiluções, os malquereres. E assim encaminha a vida, posto sobre uma placa mãe, e a espreitar novas comunicações, novos amigos e novos amores.

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Gosto, Desgosto e Agosto

Ultimo dia de agosto. Poderia começar contando como foi meu dia, quando acordei, ou como foi meu final de semana, até esse exato momento. Mas prefiro descrever, como as coisas foram fluindo, fazendo uma retrospectiva do mês inteiro. Não usarei uma maneira cronológica linear, de acordo com o mês. Posso começar, como meu dia começou hoje, como também, posso começar como foi esta madrugada, daqui de São Paulo. O dia, apenas uma definição astronômica, diz respeito ao nascer do Sol, ao subir o horizonte, alcançar o meridiano e, novamente se por, para que surja a noite, num ciclo eterno, que provavelmente durará mais ou menos daqui a uns quatro bilhares de anos. Posso também descrever o mês, de acordo com o ciclo lunar, quando no dia primeiro de agosto a Lua estava entrando em fase de “lua nova”, como também, precisou de necessariamente do “mês” inteiro para que esta pudesse retornar seu ciclo natural. Por sua vez, o mês também é uma definição astronômica, diz respeito às mudanças de fase da lua, quando ela realiza uma evolução em torno da Terra. Digamos então que as influências destes astros são muito pertinentes as nossas vidas diárias. Por exemplo, em fase de Lua nova, há um fenômeno da natureza relacionado às marés. Não só a Lua como o Sol, mas também a Terra, que realiza determinados movimentos. Detalhe: o dia é a rotação da Terra em torno do seu próprio eixo e que equivale a 23 horas, 56 minutos, 4 segundos e 9 centésimos. O ano, que não entra nesta crônica, representa também uma definição astronômica. O que posso destacar do ano, é uma parcela dele, isto é, dos dozes meses que o componha, falarei somente deste mês, que é agosto, ou seja, está situado numa das quatro estações do ano, que corresponde ao inverno.
Madrugada chuvosa, depois de uma tarde escura e ventuosa. Manhã do dia anterior, e sol nascente, surgido de brilho reluzente e calor a todos. Grande alegria vinda dos seus primeiros raios de luz, sem D’Alva para ser vista e apreciada antes do clarear. Sem a de Milo para também louvar a sua beleza no entardecer do dia. Ausência da vespertina no horizonte. Procura da matutina no dia seguinte, mas sem resultado: manhã fria e com a velha cara da cidade da garoa. Por onde andas a estrela de Davi? Será que está em conjunção com o Sol? Pode ser. Enquanto isso, Hermes e Ares, a governar as manhãs. E durante a noite, Júpiter e Saturno. Vênus se ausentou por esses dias. Hoje é dia de Hermes, amanhã de Júpiter, depois de Vênus. Zeus abrirá um novo ciclo. Novo mês, por todo esse firmamento. Trará boas novas, ou ruins velhas. Há dois dias atrás, era o dia de Selene, mas esta não estava presente no firmamento, era “nova”. Apesar de não está à vista, a noite foi tão maravilhosa, que fez lembrar um dia qualquer de verão. Ao debruçar-se para ter o céu sobre meus olhos, via-se uma magnífica e vislumbrada abobada celeste, repleta de estrelas. Observava-se Júpiter no horizonte nordeste, a procura de Ganimedes, Calisto, Europa e Io. Pois bem, refletir nesse exato momento: ao apontar o instrumento óptico para Júpiter, foi visto somente, talvez, Ganimedes, que é o maior satélite. “Se a luneta não tivesse sido inventada, evidentemente Galileu não a teria observado as quatro luas de Júpiter aqui na capital, pelo menos nesses tempos atuais”. A cidade transforma energias em eletricidade, em luminosidade e isso, traduz uma grande perda significante do que há no firmamento. A noite se desenlaçou, enchi minha alma de energia, dei uma nova coloração, mudei sua textura e tirei do desfoque. A sensação que tinha era que estava sobre um ritual, passando por uma espécie de leveza do peso, como dizia Milan Kundera, estava carregando uma “insustentável leveza do ser” naquelas horas. Como se houvesse uma força externa que trouxesse uma estranha alegria, espontânea e misteriosa para comigo. Enquanto isso, pássaros vinham anunciar o dia de amanhã, ouvir seus cantos tarde da noite. “Era chuva que estava para chegar”, eu pensei. E eles continuaram a seguir sua rota.
Fui pra casa, despir meu ser e me vi num reflexo sem sombra. Caminhei diante minha imagem formada. Vi que ela era simétrica a mim, estava a seis passos de onde me localizava. Procurava ver o que estava por dentro, o que regia por trás daquela imagem semelhante a mim. Dei as costas e fui dormir. “Quando certa manhã Claude Kafka acordou de sonhos intranqüilos, encontrou-se em sua cama...” não metamorfoseado num monstruoso inseto, mas desperto para um novo mundo, para uma nova visão, um andar diferente, e um caminhar novo por entre as pessoas. Cheguei ao trabalho com a sensação de que roubei uma alma infantil, toda inocente para com o mundo. Via coisas novas, ficava maravilhado, tornava a ri, a conversar a cantar, a pular de alegria. Lembrei do Poema do “menino Jesus” do Alberto Caeiro, “(...) Ele dorme dentro da minha alma; E às vezes acorda de noite; E brinca com os meus sonhos; Vira uns de perna para o ar, Põe uns em cima dos outros; E bate as palmas sozinho; Sorrindo para o meu sono (...)”. De vez em quando perco essa sensação, mas tento retornar buscá-la novamente e intensamente.
Chegou domingo, grande dia, muitas emoções. Último final de semana do mês, encontros com amigos, apresento-me e em conjunto formamos um grande sarau, que contribuiu incessantemente, para minha busca da alegria, da felicidade e que me motivou a querer mais e mais viver as novas sensações. Amo a arte, quero ser parte dela. Sinto-me à vontade, libero meu espírito poético dos poetas, libero minhas canções dos compositores, libero meu olhar para novas pontes. Não estou mais a procurar, pelo menos por enquanto, aquela estrelinha errante e bela. Não crio mais expectativas. Deixo estar e ver o desenrolar das situações, o agravamento dos casos. Os olhares espantados dos que hão de chegar. Lembro-me também a uma semana atrás, deste milagroso domingo, um sábado ao qual vivi experiências adoráveis com amigos, fui em lugares que me trouxeram sensações boas, de mais liberdade, de ânsia de viver a sonhar uma realidade concreta. Não carrego mais esse fardo, que me desequilibrava, ou melhor, carrego sim, mas não sinto seu peso com tanta força. Parece que estou sobre influência de outra gravidade.
Agosto começou no dia de Selene, aniversário de um ex-amado meu. Mas como era de se esperar, veio uma espécie de angústia, de não está ao seu lado. E nisso, os desejos e as aflições só foram me corroendo no decorrer dos dias, para chegar na quinta-feira, o segundo tombo. Numa tarde ensolarada sobre a grama, sentei a conversar no telefone, e ouvir aquela frase clássica “precisamos conversar”. Desabei em série de camadas, não me contive, chorei, desandei, estive sob um manto de ruína. Senti-me como uma escultura sem membros. Nesse momento surgiu como epifania a imagem de uma Deusa que estava acenando tchau. O dia nublou-se, ao caminhar diante as pessoas. De suas imagens que se formavam borradas sobre minha retina, o cérebro não processara direito e, que agravara uma série de dores de cabeça. Durante o percurso tortuoso que me levava para casa, ouviam-se ruídos sonoros que me agoniavam, horas trágicas, momentos de pura emoção...mas cheguei em casa, meu choro já havia cessado. O dia de Vênus chegou, estava a vagar pela solidão, pelo manto que cobria meu rosto, pela falta de sorriso entregue, dado e roubado. Dia de Saturno veio, minha primeira experiência de estar só, sozinho no mundo. Não ficar em casa a desejar que o tempo passe depressa. Foi aí que lancei um conto, “reflexões após uma noite na balada”. Hoje releio, e vi o quanto fui presunçoso, orgulhoso e esnobe. Tenho vergonha por ter escrito algumas coisas, mas pelo menos reconheço, e não quero isso para mim, quero ser o mais humilde possível, o mais sincero e o mais amigável. Quero ter amigos, quero compartilhar meus desprezos, meus desatentos, quero sair com eles, viver com eles e morar dentro deles. E os dias se seguiram, cada vez mais amenos e com instantes de tédio. Agosto acabou, a chuva lavou os mistérios deste mês, chegou Setembro. A chuva, fenômeno tão importante, repleto de significados, cantados, lidos e visualizados por diversos artistas. Tantas canções que falam da chuva, quantos escritos que ela aparece. Parece que é até uma divindade, que purifica, renova e trás novos tempos. Depois dela, o Sol abriu-se em raios reluzentes, começando o mês de Setembro. Há uma esperança que paira no ar, no firmamento e na minha nova concepção de tempo. O mês de setembro será a gosto de todos. Terá feriado, irá até o dia 30, mas enfim, convenhamos, agosto foi cruel. Agosto não foi a gosto de todos, mas sim um grande desgosto para uns.
                             

sábado, 27 de agosto de 2011

Para atravessar agosto por Caio Fernando Abreu

       Para atravessar agosto é preciso antes de mais nada paciência e fé. Paciência para cruzar os dias sem se deixar esmagar por eles, mesmo que nada aconteça de mau; fé para estar seguro, o tempo todo, que chegará setembro- e também certa não-fé, para não ligar a mínima às negras lendas deste mês de cachorro louco. É preciso quem sabe ficar-se distraído, inconsciente de que é agosto, e só lembrar disso no momento de, por exemplo, assinar um cheque e precisar da data. Então dizer mentalmente ah!, escrever tanto de tanto de mil novecentos e tanto e ir em frente. Este é um ponto importante:ir, sobretudo, em frente.
       Para atravessar agosto também é necessário reaprender a dormir,dormir muito, com gosto, sem comprimidos, de preferência também sem sonhos. São incontroláveis os sonhos de agosto: se bons, deixam a vontade impossível de morar neles, se maus, fica a suspeita de sinistros angúrios , premonições.Armazenar víveres, como às vésperas de um furacão anunciado, mas víveres espirituais, intelectuais, e sem muito critério de qualidade. Muitos vídeos de chanchadas da Atlântida a Bergman; muitos CDs, de Mozart a Sula Miranda; muitos livros, de Nietzche a Sidney Sheldon. Controle remoto na mão e dezenas de canais a cabo ajudam bem:qualquer problema , real ou não, dê um zap na telinha e filosoficamente considere, vagamente onipotente, que isso também passará. Zaps mentais, emocionais, psicológicos, não só eletrônicos, são fundamentais para atravessar agostos. Claro que falo em agostos burgueses, de médio ou alto poder aquisitivo. Não me critiquem por isso, angústias agostianas são mesmo coisa de gente assim, meio fresca que nem nós. Para quem toma trem de subúrbio às cinco da manhã todo dia, pouca diferença faz abril, dezembro ou, justamente, agosto. Angústia agostiana é coisa cultural, sim. E econômica. Mas pobres ou ricos, há conselhos- ou precauções-úteis a todos. O mais difícil:evitar a cara de Fernando Henrique Cardoso em foto ou vídeo, sobretudo se estiver se pavoneando com um daqueles chapéus de desfile a fantasia categoria originalidade...Esquecê-lo tão completamente quanto possível(santo ZAP!):FHC agrava agosto, e isso é tão grave que vou mudar de assunto já. Para atravessar agosto ter um amor seria importante, mas se você não conseguiu, se avida não deu, ou ele partiu- sem o menor pudor, invente um.Pode ser Natália Lage, Antonio Banderas, Sharon Stone, Robocop, o carteiro, a caixa do banco, o seu dentista. emoto ou acessível, que você possa pensar nesse amor nas noites de agosto, viajar por ilhas do Pacífico Sul, Grécia, Cancún ou Miami, ao gosto do freguês. Que se possa sonhar, isso é que conta, com mãos dadas, suspiros, juras, projetos, abraços no convés à lua cheia, brilhos na costa ao longe. E beijos, muitos. Bem molhados.
       Não lembrar dos que se foram, não desejar o que não se tem e talvez nem se terá, não discutir, nem vingar-se , e temperar tudo isso com chás, de preferência ingleses, cristais de gengibre, gotas de codeína, se a barra pesar, vinhos, conhaques-tudo isso ajuda a atravessar agosto. Controlar o excesso de informações para que as desgraças sociais ou pessoais não dêem a impressão de serem maiores do que são. Esquecer o Zaire , a ex-Iugoslávia, passar por cima das páginas policiais. Aprender decoração, jardinagem, ikebana, a arte das bandejas de asas de borboletas- coisas assim são eficientíssimas, pouco me importa ser acusado de alienação. É isso mesmo, evasão, escapismos, explícitos. Mas para atravessar agosto, pensei agora, é preciso principalmente nãose deter de mais no tema. Mudar de assunto,digitar rápido o ponto final, sinto muito perdoe o mau jeito, assim, veja, bruto e seco.

São Paulo (SP), agosto de 1995 - Crônica publicada no jornal - O Estado de São Paulo

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

longas conversas nestas tardes de agosto


E como já dizia Caio Fernando Abreu, esse é o mês do “cachorro louco”. E não é que parece mesmo!? Tantas coisas desencadearam para que meu estado de espírito esteja hoje como está. Sinto o peso da minha alma, a dor do coração, a ânsia do meu querer, o cheio que me tonteia de lembranças, e a música que me enfatiza e equilibra meu ser sereno nesta serenata que é a vida. Esta melodia que une como um cordão umbilical minha vida a outra vida. Percebo os dias passarem lentamente neste mês de agosto. Sei exatamente os dias que me assombraram, as horas que me assustam e, que revelam lembranças não muito desejadas no momento. Este é o mês da desordem, da desilusão, do desprezo e do descaso. O mês em que as bruxas correm soltas. São Paulo, grande metrópole urbana e caótica, quantas vidas não devem está doentes da alma? Quantas almas que já devem ter perdido o rumo e que estão desesperançosas? A cidade cheira a dióxido de carbono, está cinza. As estrelas perdem suas magnitudes, brilham cada vez menos. As pessoas cada vez mais alienadas, contidas num universo minúsculo e individual. Mas afinal, qual é a relação do mês de agosto? Bom, não existe razão nenhuma para esse alarde referente ao mês, porém se caso houvesse, poderíamos supor que há uma relação entre o período de recesso do mês passado (mês das férias de julho) e início de mais um semestre letivo. E tudo volta ao normal. Normal? Reencontros, desencontros e novidades. E o que esperar desse mês? Somente que passe, que cure, cicatrize as feridas, que emenda a alma e corrija os erros banais.
Oscilo entre a saudade e o desprezo, como um pêndulo simples. Sou cordas vibrantes em tons graves e agudos, numa sinfonia melodramática. Caminho por entre montanhas e vales, percorrendo estradas sinuosas. Passo dias e noites a desejar o incompreendido. Vejo somente as cores brancas e pretas, como se no mundo houvesse apenas esses tons. Mas, logo, logo irei renascer como um pássaro de fogo, que brotará das cinzas. Como uma flor feia que nasceu perfurando o asfalto, e que se ergueu diante os automóveis, mas apesar dos pesares é uma flor! Assim dizia Drummond em seu poema “A Flor e a Náusea”. Conversando hoje com o Caio, ele me disse respondendo a uma pergunta: “A partir de hoje, uma vida feita de fatos.” E logo em seguida, a Clarice ganha forma e fala: "Estou me interessando terrivelmente por fatos: fatos são pedras duras. Não há como fugir. Fatos são palavras ditas pelo mundo".
Passo as longas tardes de sábado pensando na vida. Converso com Caio muitas vezes. Troco idéias com a Clarice e com o Álvaro de Campos. Ouso música, lembro-me dos meus passados recentes. Associo cada letra a um momento específico, a uma pessoa, a uma situação. As lembranças vêem como numa fotografia. São registros, momentos, instantes alegres. Perco-me em meus pensamentos. Às vezes é tão bom esquecer da realidade, viver somente nos delírios da vida. A música controla minhas emoções, ela equilibra meu ego, enche minha alma de cores, bombeia meu coração, articula meus movimentos, e me dá a esperança de que tudo continua, o mês irá passar. Passará o primeiro ano, lembrarei deste, e assim serão os decorrentes dias. Dias melhores, dias piores, que sejam, mas que estejam presentes em meus caminhos. Nasço a cada instante, respiro em todos os momentos, e furto minha alma para extrair meus sentimentos mais cobiçados e escondidos lá do fundo do abismo. Uma frase que o Caio diz e hoje reflito e concordo foi: "A vida tem caminhos estranhos, tortuosos às vezes difíceis: um simples gesto involuntário pode desencadear todo um processo. Sim, existir é incompreensível e excitante. As vezes que tentei morrer foi por não poder suportar a maravilha de estar vivo e de ter escolhido ser eu mesmo e fazer aquilo que eu gosto - mesmo que muitos não compreendam ou não aceitem." Assim sendo, penso: sou uma vida somente vivendo o mês de agosto, na angustia do tempo, na espera do novo, na busca do sonho e na aceitação de si, isto é, do seu modo de ser, querer e saber das coisas. Mas parece que sempre nos encaminhamos para um “eterno retorno”. Segundo Nietzsche, a idéia de que as situações irão se repetir indefinidamente. Ou seja, estamos sempre a mercê das desilusões em que o tempo pode revelar. Estamos sujeitos a passar pelos mesmos caminhos andados, e novamente se confrontar com os desejos não adquiridos. Mas uma coisa é certa, o tempo traz a experiência, mesmo que a situação se repita, não sofrerá um dano igual ao anterior.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Reflexões Após uma Noite na Balada

Descobrir o que é viver. Descobrir que vivia até então metade da minha vida. Achava que viver fosse dar parte do seu corpo e alma à outra pessoa. Hoje, exatamente hoje, agora, penso que viver é está exatamente sozinho, ser individual, não compartilhar com o outro, agir de maneira profundamente egoísta. Amar a si mesmo, entregar-se para o vento e a noite. Não dar ao luxo de cair na tentação da outra pessoa. Viver é não está trancado dentro do quarto, lamentando o que não se deve ser lamentado. É caminhar sozinho com o passar do tempo. É conhecer lugares novos, se dispor a novas amizades, se situar numa nova fase. Ter coragem, tomar decisões, andar sempre em frente, ser cauteloso, responsável, ter consciência e acima de tudo ser racional. Aí está algo que o tempo relatou e demonstrou diante dos meus olhos, que sou uma pessoa que age puramente de maneira emocional, isto é, deixo o coração falar mais alto. Isso acaba sendo um grande problema nesses novos tempos.
Hoje parece que a humanidade está muito mais racional. Quando se trata de relacionamento, parece a meu ver que as pessoas temem amar, tem medo, algo que impossibilita de avançarem. Transformaram o amor, que até então sempre foi um sentimento emocional, numa coisa mecânica, padronizada, uniformizada. Parece que criaram um limite ao qual não se deve ultrapassar, continuar. Será por que irá tornar o destino, algo que só o tempo vai dizer, num túnel que nunca acaba? Será medo da indecisão? Infelizmente as pessoas se programam hoje pra tudo, hora de ir trabalhar, hora do almoço, hora de retornar ao trabalho, hora de voltar pra casa, ou de ir realizar uma atividade, hora de dormir e, o ciclo diário recomeça. Onde é que sobra a hora de amar? O dia tem vinte quatro horas, a semana cento e sessenta e oito horas. É assim o que acontece hoje em dia, tudo calculado.
Em tempos a tempos se aprende a viver, sonhar, conseguir o que procura. Eu não vivia, apenas compartilhava os meus gostos e prazeres por uma geração passada. Os tempos mudam, a geração muda e com isso percebo que hoje estou vivendo a geração ao qual pertence a mim. Olhava o passado e via uma década perdida. Geração esta que nem vivi, era apenas uma criança perdida na inocência do mundo e da humanidade. Quando digo que aprendi a viver, ou melhor, estou prontamente para começar uma nova fase, quero dizer que compreendi o que esta geração esperado do mundo, o que ela acha, o que procura, o que sente. À parti isso, comecei a viver e estou preparado para o que a segunda década do ano dois mil tem a me oferecer.
Vamos usufruir e degustar dos maiores prazeres deste tempo. Caminhemos de braços erguidos, de cabeça erguida, de coração excitante para novas emoções, de alma limpa para novos amores, de corpo vivo para novas estradas. Deixemos para trás as desilusões, os momentos solitários, as tristezas e os descaminhos. Caminhemos sempre avante para o desconhecido, para novas descobertas do mundo e futuras experiências.
E não é por isso que escrevo e digo: na noite passada vivi o dia mais melancolicamente feliz de todos os meus vinte e um anos. Se não fosse minha razão, hoje estaria aniquilado, me autocrucificando, me menosprezando e me rebaixando por uma pessoa que não mais significa nada diante de mim. Tenho meus status, tenho minhas qualidades. Nesses meus vinte e um anos, já carrego comigo uma grande bagagem de conhecimento. Agora, nessa nova fase, dou valor a mim mesmo, me convenço, e me orgulho de todas as coisas que faço. Tenho bons gostos, de cinema, arte, música, dança e assim vai. Tenho bom senso, sou amigável, prestativo e humilde. Depois disso tudo eu pergunto, por que me rebaixei então àquela pessoinha? Ah, foi amor, fui somente emocional. Mas enfim, esse amor será aniquilado com todo o meu repertório caindo encima. Virará cinzas, num sopro não mais existirá. Embora, vou me conter por enquanto, pois descobrir que gosto de sofrer. Assim sendo, descobrir que estou aprendendo a viver. Essa foi apenas uma reflexão de uma noite na balada, virão outras, me aguarde.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

correspondências de agosto



 Letra de música do Zeca Baleiro. 
Bandeira
Eu não quero ver você cuspindo ódio
Eu não quero ver você fumando ópio pra sarar a dor
Eu não quero ver você chorar veneno
Não quero beber o teu café pequeno
Eu não quero isso, seja lá o que isso for
Eu não quero aquele, eu não quero aquilo,
Peixe na boca do crocodilo
Braço na Vênus de Milo acenando tchau.
Não quero medir a altura do tombo
Nem passar agosto esperando setembro
Se bem me lembro
O melhor futuro, este hoje escuro
O maior desejo da boca é o beijo
Eu não quero ter o Tejo me escorrendo das mãos
Quero a Guanabara, quero o rio Nilo,
Quero tudo ter estrela, flor, estilo
Tua língua em meu mamilo, água e sal
Nada tenho, vez em quando tudo
Tudo quero mais ou menos quanto
Vida, vida noves fora zero
Quero viver, quero ouvir, quero ver
(se é assim, quero sim... acho que vim pra te ver)
"Para atravessar agosto é preciso antes de mais nada paciência e fé.
Paciência para cruzar os dias sem se deixar esmagar por eles, mesmo que nada aconteça de mau; Fé para estar seguro, o tempo todo, que chegará setembro - e também certa não-fé, para não ligar a mínima às negras lendas deste mês de cachorro louco..." (Caio F.) Para meu querido, Claude BradBury!!! PS: Obrigado Cris.

 

Lavar a alma significa: tirar as impurezas

Meu coração está dilacerado, minha alma desprendida e meu corpo mórbido e monótono.
A gente não entende porque acaba. Só percebe quando a saudade desperta, as boas lembranças vêem e os caminhos percorridos tornam-se cada vez mais tortuosos. Lutamos para esquecer, mas as primeiras horas e dias o tempo nos destroem. Procuramos o melhor para o outro e muitas das vezes esquecemos de nós mesmos. É por isso que nós amamos verdadeiramente. Sempre estamos a desejar o melhor.
Lavo minha alma com a música, recupero minha auto-estima com distrações. Enquanto o som soa dissonante no fundo do meu pensamento, lembranças brotam e se desfazem harmoniosamente. Tem vezes que a gente perde a vontade de tudo, esquece dos sonhos e age como se quisesse abdicar da vida. Tantas coisas ocorreram em minha vida em pouco menos de dois anos. Acho que até estou procurando intensamente a felicidade. E o que vejo e percebo é justamente o oposto do que quero. Encontro caminhos da desilusão, da melancolia e da morte. O que mais procuro está cada vez mais distante de mim. Assim é a vida, cheia de encontros e desencontros. É como um jogo, “nem sempre ganhando, nem sempre perdendo, mas aprendendo a jogar”. A vida é um paradigma, um jogo de relações humanas. Começa sem entender e acaba com um “game over”, mas o mais importante é que pode reiniciar. Desta vez mais experiente.
Estamos passando por um mal do século, hoje em dia as pessoas tem medo de amar, de entregar-se de corpo e alma a outra pessoa. O ruim é que estão cada vez mais desaprendendo a amar, ou melhor desamando. Tem medo de ultrapassar o limite, é como se amar fosse uma coisa inóspita. É como se amar fosse algo que não pertence mais ao nosso século, ele está obscuro, infalível.
O que sobra, são os bons momentos, os registros, os objetos que irão lembrar sempre, o cheiro, a música marcante, as fotos, os encontros empolgantes, as descobertas novas, as idas e vindas, os abraços, o afeto, o carinho e até mesmo os dias tensos, os confrontos de idéias, as discórdias, os ciúmes. Mas mesmo assim, o amor que supostamente não existiu por um lado, torna-se irremediavelmente uma peça fundamental para o fim do relacionamento. A ausência, a falta de afeto, de ternura, torna-se desnecessária. E assim vai se encaminhando, até chegar a hora, que um tem que ser forte o bastante para dar um fim nisso tudo. Obviamente iremos sofrer do mesmo jeito. E o que acontece? Nosso coração dispara em som e fúria, deixamos de ser racional, ficamos de cabeça quente e muitas das vezes falamos o que não devíamos. Mas logo conseguinte, vem o arrependimento, o processo de racionalização. Mas a alma não obedece o corpo, e assim ficamos descontrolados, em parte começamos a chorar, começamos a agir de forma egoísta, não queremos escutar o que o outro tem a dizer e, tudo se transforma numa falta de comunicação. O tempo passa e a angústia torna o elemento principal do momento. Não sabe ao certo se tudo é um sonho e que vai passar logo assim que acordar. Porém, somente estamos nos escondendo de uma situação, que inevitavelmente irá ocorrer. Situação esta, que meu coração já previa, só que tinha medo de se concretizar. O pior que a gente pressente. Confesso que naquela manhã havia acordado inseguro, aflito e um pouco já de cólera. Meu coração já havia se preparado um pouco, mas como disse: ele estava se escondendo desta realidade. Melhor seria se nada disso tivesse ocorrido. Ninguém prevê, somente pressente. Não há quem explique como começa uma paixão, mas também na há quem não entenda.
   Nada melhor do que continuar com a amizade, porque queira ou não, a pessoa te fez feliz por um determinado período de tempo. O único problema nisso tudo pode ser que a pessoa venha a se confundir de novo. Porque ele, eu e você sempre, sempre iremos ter algo que é bom, mas também pode ser ruim, que chamamos de esperança. Esperança esta, que alimenta o sonho humano. Talvez seja a esperança que nos torna seguro de nós mesmos. Mas uma coisa é certa, existe um embate entre esperança e felicidade. Á medida que procuramos a felicidade, percebemos que por um lado, iremos ficando cada vez mais sem esperança. Porque a experiência de vida te ensina muito, e com ela você aprende e percebe que se não tomar cuidado, você vai se deixar levar. Por mais que encontre a pessoa que te faça feliz, tenha a total ciência de que ela não é somente fruto de sua imaginação, não é somente uma projeção daquilo que você queria para ti, não é apenas uma imagem que você esperava dele, mas que de fato fosse somente sua. Tome cuidado com isso, não desenhe, não fantasie, pois senão vai vir o tempo em que você não mais enxergara aquela pessoa ao qual julgava perfeita. Com muita gratidão esse conto é para ti, Tiago Sávio

Flores, Primavera e Harmonia

Não meu bem, não sou mais seu anjinho. Aquela figura de cabelos cacheados, moreno, alto, não existe mais, deixou de ser um anjo. Da sua ingenuidade e inocência, transformou-se em solidão e sofrimento. Passou-se a ser, digamos: humano. Com suas características banais a mercê de uma felicidade, de um novo amor. As lágrimas derramadas amputaram suas assas, seus desejos mudaram para o ódio e arrependimento. O que fez de mim foi tornar-me mais humano. Essa sim foi a grande descoberta. O anjo que a um tempo atrás, comportava como uma criança, na inocência de falar, de enxergar o mundo, hoje já não é assim. Felizmente ele aprendeu que o sofrimento faz parte da vida. Aprendeu que o amor, pode começar de uma forma tão inesperada, assim como também pode acabar, de um dia para o outro, sem mais, nem menos. Soube conviver com o tempo, a espera do irreversível, soube encontrar no tempo, fugas, caminhos, estradas abertas e fechadas. Criou ao mesmo tempo caminhos ilusórios, que levam para o paraíso. Não aquele paraíso, de flores, primavera e harmonia, mas o verdadeiro paraíso, de angústia de dor, de mal querer. Paraíso este, que do ilusório vem a ser real. Essas flores, primavera e harmonia, é o que sempre procuramos. A medida que queremos, mais longe fica. A procura da felicidade leva ao caminho da dor e do sofrimento, passará por pântanos e mais pântanos, mas quem sabe chega lá? É isso que nos alimenta, é ruim mas parece que gostamos de sofrer.
Sempre encontraremos uma brecha nesses caminhos tortuosos, que levam para uma estrada maior ou menor, mas que sempre tem um fim. Esse fim pode ser hoje, agora, amanhã ou quem sabe daqui a uns dez, trinta anos? A vida é assim mesmo, é que nem um jogo, chega no final, ou é “you win” ou “game over”. Ou (hehehe), você tem mais uma chance. Como é cômico rir das situações humanas, como é cômico rir das desgraças alheias, ainda mais quando aquele, desesperadamente sai em busca do seu amor que não deu certo! Amigo, é “nevermore!” não se rebaixe, as vezes trocamos o certo pelo duvidoso, as vezes você terá uma segunda, terceira chance, mas não pense que chegou no paraíso, de flores, primavera e harmonia. Como num conto que li, “Que imensa miséria o grande amor - depois do não, depois do fim - reduzir-se a duas ou três frases frias ou sarcásticas. Num bar qualquer, numa esquina da vida”. Foi aí que descobrir que a vida é um romance, tem suas páginas, capítulos e, no final, acaba né? Pode ser uma série, mas acaba. O mais engraçado é que qualquer história de romance, de amor, a situação é sempre a mesma, só muda o cenário, troca os personagens. Algumas histórias são mais intensas, outras não, mas enfim são sempre iguaiszinhas. Descobrir que a minha história não é diferente e, percebo que ao ouvir outras, nos motivas a tornar-se mais experientes.  É bom chorar, quando a lágrima cessa, significa que podemos novamente nos erguer, significa que buscaremos a nossa alto estima, significa que aquela pessoa por qual você se relacionou, vai perdendo sua forma, vai se desconfigurando, se desfragmentando, tornando-se cada fez mais um objeto qualquer sem valor, que fica lá na estante recebendo poeira. Ou como também um vidro que se parte ao cair no chão, por mais que recolhemos seus cacos, não voltará ser mais o mesmo, é irreversível fazer com que todos os pedaços se juntem voltando a ser o objeto original. Mais uma vez acabo de expor minhas angustias, mas em vista do que era antes, hoje sei lidar (espero que saiba mesmo) com a vida. Bom, ponto final, até uma próxima.