sexta-feira, 19 de agosto de 2011

longas conversas nestas tardes de agosto


E como já dizia Caio Fernando Abreu, esse é o mês do “cachorro louco”. E não é que parece mesmo!? Tantas coisas desencadearam para que meu estado de espírito esteja hoje como está. Sinto o peso da minha alma, a dor do coração, a ânsia do meu querer, o cheio que me tonteia de lembranças, e a música que me enfatiza e equilibra meu ser sereno nesta serenata que é a vida. Esta melodia que une como um cordão umbilical minha vida a outra vida. Percebo os dias passarem lentamente neste mês de agosto. Sei exatamente os dias que me assombraram, as horas que me assustam e, que revelam lembranças não muito desejadas no momento. Este é o mês da desordem, da desilusão, do desprezo e do descaso. O mês em que as bruxas correm soltas. São Paulo, grande metrópole urbana e caótica, quantas vidas não devem está doentes da alma? Quantas almas que já devem ter perdido o rumo e que estão desesperançosas? A cidade cheira a dióxido de carbono, está cinza. As estrelas perdem suas magnitudes, brilham cada vez menos. As pessoas cada vez mais alienadas, contidas num universo minúsculo e individual. Mas afinal, qual é a relação do mês de agosto? Bom, não existe razão nenhuma para esse alarde referente ao mês, porém se caso houvesse, poderíamos supor que há uma relação entre o período de recesso do mês passado (mês das férias de julho) e início de mais um semestre letivo. E tudo volta ao normal. Normal? Reencontros, desencontros e novidades. E o que esperar desse mês? Somente que passe, que cure, cicatrize as feridas, que emenda a alma e corrija os erros banais.
Oscilo entre a saudade e o desprezo, como um pêndulo simples. Sou cordas vibrantes em tons graves e agudos, numa sinfonia melodramática. Caminho por entre montanhas e vales, percorrendo estradas sinuosas. Passo dias e noites a desejar o incompreendido. Vejo somente as cores brancas e pretas, como se no mundo houvesse apenas esses tons. Mas, logo, logo irei renascer como um pássaro de fogo, que brotará das cinzas. Como uma flor feia que nasceu perfurando o asfalto, e que se ergueu diante os automóveis, mas apesar dos pesares é uma flor! Assim dizia Drummond em seu poema “A Flor e a Náusea”. Conversando hoje com o Caio, ele me disse respondendo a uma pergunta: “A partir de hoje, uma vida feita de fatos.” E logo em seguida, a Clarice ganha forma e fala: "Estou me interessando terrivelmente por fatos: fatos são pedras duras. Não há como fugir. Fatos são palavras ditas pelo mundo".
Passo as longas tardes de sábado pensando na vida. Converso com Caio muitas vezes. Troco idéias com a Clarice e com o Álvaro de Campos. Ouso música, lembro-me dos meus passados recentes. Associo cada letra a um momento específico, a uma pessoa, a uma situação. As lembranças vêem como numa fotografia. São registros, momentos, instantes alegres. Perco-me em meus pensamentos. Às vezes é tão bom esquecer da realidade, viver somente nos delírios da vida. A música controla minhas emoções, ela equilibra meu ego, enche minha alma de cores, bombeia meu coração, articula meus movimentos, e me dá a esperança de que tudo continua, o mês irá passar. Passará o primeiro ano, lembrarei deste, e assim serão os decorrentes dias. Dias melhores, dias piores, que sejam, mas que estejam presentes em meus caminhos. Nasço a cada instante, respiro em todos os momentos, e furto minha alma para extrair meus sentimentos mais cobiçados e escondidos lá do fundo do abismo. Uma frase que o Caio diz e hoje reflito e concordo foi: "A vida tem caminhos estranhos, tortuosos às vezes difíceis: um simples gesto involuntário pode desencadear todo um processo. Sim, existir é incompreensível e excitante. As vezes que tentei morrer foi por não poder suportar a maravilha de estar vivo e de ter escolhido ser eu mesmo e fazer aquilo que eu gosto - mesmo que muitos não compreendam ou não aceitem." Assim sendo, penso: sou uma vida somente vivendo o mês de agosto, na angustia do tempo, na espera do novo, na busca do sonho e na aceitação de si, isto é, do seu modo de ser, querer e saber das coisas. Mas parece que sempre nos encaminhamos para um “eterno retorno”. Segundo Nietzsche, a idéia de que as situações irão se repetir indefinidamente. Ou seja, estamos sempre a mercê das desilusões em que o tempo pode revelar. Estamos sujeitos a passar pelos mesmos caminhos andados, e novamente se confrontar com os desejos não adquiridos. Mas uma coisa é certa, o tempo traz a experiência, mesmo que a situação se repita, não sofrerá um dano igual ao anterior.

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