quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Gosto, Desgosto e Agosto

Ultimo dia de agosto. Poderia começar contando como foi meu dia, quando acordei, ou como foi meu final de semana, até esse exato momento. Mas prefiro descrever, como as coisas foram fluindo, fazendo uma retrospectiva do mês inteiro. Não usarei uma maneira cronológica linear, de acordo com o mês. Posso começar, como meu dia começou hoje, como também, posso começar como foi esta madrugada, daqui de São Paulo. O dia, apenas uma definição astronômica, diz respeito ao nascer do Sol, ao subir o horizonte, alcançar o meridiano e, novamente se por, para que surja a noite, num ciclo eterno, que provavelmente durará mais ou menos daqui a uns quatro bilhares de anos. Posso também descrever o mês, de acordo com o ciclo lunar, quando no dia primeiro de agosto a Lua estava entrando em fase de “lua nova”, como também, precisou de necessariamente do “mês” inteiro para que esta pudesse retornar seu ciclo natural. Por sua vez, o mês também é uma definição astronômica, diz respeito às mudanças de fase da lua, quando ela realiza uma evolução em torno da Terra. Digamos então que as influências destes astros são muito pertinentes as nossas vidas diárias. Por exemplo, em fase de Lua nova, há um fenômeno da natureza relacionado às marés. Não só a Lua como o Sol, mas também a Terra, que realiza determinados movimentos. Detalhe: o dia é a rotação da Terra em torno do seu próprio eixo e que equivale a 23 horas, 56 minutos, 4 segundos e 9 centésimos. O ano, que não entra nesta crônica, representa também uma definição astronômica. O que posso destacar do ano, é uma parcela dele, isto é, dos dozes meses que o componha, falarei somente deste mês, que é agosto, ou seja, está situado numa das quatro estações do ano, que corresponde ao inverno.
Madrugada chuvosa, depois de uma tarde escura e ventuosa. Manhã do dia anterior, e sol nascente, surgido de brilho reluzente e calor a todos. Grande alegria vinda dos seus primeiros raios de luz, sem D’Alva para ser vista e apreciada antes do clarear. Sem a de Milo para também louvar a sua beleza no entardecer do dia. Ausência da vespertina no horizonte. Procura da matutina no dia seguinte, mas sem resultado: manhã fria e com a velha cara da cidade da garoa. Por onde andas a estrela de Davi? Será que está em conjunção com o Sol? Pode ser. Enquanto isso, Hermes e Ares, a governar as manhãs. E durante a noite, Júpiter e Saturno. Vênus se ausentou por esses dias. Hoje é dia de Hermes, amanhã de Júpiter, depois de Vênus. Zeus abrirá um novo ciclo. Novo mês, por todo esse firmamento. Trará boas novas, ou ruins velhas. Há dois dias atrás, era o dia de Selene, mas esta não estava presente no firmamento, era “nova”. Apesar de não está à vista, a noite foi tão maravilhosa, que fez lembrar um dia qualquer de verão. Ao debruçar-se para ter o céu sobre meus olhos, via-se uma magnífica e vislumbrada abobada celeste, repleta de estrelas. Observava-se Júpiter no horizonte nordeste, a procura de Ganimedes, Calisto, Europa e Io. Pois bem, refletir nesse exato momento: ao apontar o instrumento óptico para Júpiter, foi visto somente, talvez, Ganimedes, que é o maior satélite. “Se a luneta não tivesse sido inventada, evidentemente Galileu não a teria observado as quatro luas de Júpiter aqui na capital, pelo menos nesses tempos atuais”. A cidade transforma energias em eletricidade, em luminosidade e isso, traduz uma grande perda significante do que há no firmamento. A noite se desenlaçou, enchi minha alma de energia, dei uma nova coloração, mudei sua textura e tirei do desfoque. A sensação que tinha era que estava sobre um ritual, passando por uma espécie de leveza do peso, como dizia Milan Kundera, estava carregando uma “insustentável leveza do ser” naquelas horas. Como se houvesse uma força externa que trouxesse uma estranha alegria, espontânea e misteriosa para comigo. Enquanto isso, pássaros vinham anunciar o dia de amanhã, ouvir seus cantos tarde da noite. “Era chuva que estava para chegar”, eu pensei. E eles continuaram a seguir sua rota.
Fui pra casa, despir meu ser e me vi num reflexo sem sombra. Caminhei diante minha imagem formada. Vi que ela era simétrica a mim, estava a seis passos de onde me localizava. Procurava ver o que estava por dentro, o que regia por trás daquela imagem semelhante a mim. Dei as costas e fui dormir. “Quando certa manhã Claude Kafka acordou de sonhos intranqüilos, encontrou-se em sua cama...” não metamorfoseado num monstruoso inseto, mas desperto para um novo mundo, para uma nova visão, um andar diferente, e um caminhar novo por entre as pessoas. Cheguei ao trabalho com a sensação de que roubei uma alma infantil, toda inocente para com o mundo. Via coisas novas, ficava maravilhado, tornava a ri, a conversar a cantar, a pular de alegria. Lembrei do Poema do “menino Jesus” do Alberto Caeiro, “(...) Ele dorme dentro da minha alma; E às vezes acorda de noite; E brinca com os meus sonhos; Vira uns de perna para o ar, Põe uns em cima dos outros; E bate as palmas sozinho; Sorrindo para o meu sono (...)”. De vez em quando perco essa sensação, mas tento retornar buscá-la novamente e intensamente.
Chegou domingo, grande dia, muitas emoções. Último final de semana do mês, encontros com amigos, apresento-me e em conjunto formamos um grande sarau, que contribuiu incessantemente, para minha busca da alegria, da felicidade e que me motivou a querer mais e mais viver as novas sensações. Amo a arte, quero ser parte dela. Sinto-me à vontade, libero meu espírito poético dos poetas, libero minhas canções dos compositores, libero meu olhar para novas pontes. Não estou mais a procurar, pelo menos por enquanto, aquela estrelinha errante e bela. Não crio mais expectativas. Deixo estar e ver o desenrolar das situações, o agravamento dos casos. Os olhares espantados dos que hão de chegar. Lembro-me também a uma semana atrás, deste milagroso domingo, um sábado ao qual vivi experiências adoráveis com amigos, fui em lugares que me trouxeram sensações boas, de mais liberdade, de ânsia de viver a sonhar uma realidade concreta. Não carrego mais esse fardo, que me desequilibrava, ou melhor, carrego sim, mas não sinto seu peso com tanta força. Parece que estou sobre influência de outra gravidade.
Agosto começou no dia de Selene, aniversário de um ex-amado meu. Mas como era de se esperar, veio uma espécie de angústia, de não está ao seu lado. E nisso, os desejos e as aflições só foram me corroendo no decorrer dos dias, para chegar na quinta-feira, o segundo tombo. Numa tarde ensolarada sobre a grama, sentei a conversar no telefone, e ouvir aquela frase clássica “precisamos conversar”. Desabei em série de camadas, não me contive, chorei, desandei, estive sob um manto de ruína. Senti-me como uma escultura sem membros. Nesse momento surgiu como epifania a imagem de uma Deusa que estava acenando tchau. O dia nublou-se, ao caminhar diante as pessoas. De suas imagens que se formavam borradas sobre minha retina, o cérebro não processara direito e, que agravara uma série de dores de cabeça. Durante o percurso tortuoso que me levava para casa, ouviam-se ruídos sonoros que me agoniavam, horas trágicas, momentos de pura emoção...mas cheguei em casa, meu choro já havia cessado. O dia de Vênus chegou, estava a vagar pela solidão, pelo manto que cobria meu rosto, pela falta de sorriso entregue, dado e roubado. Dia de Saturno veio, minha primeira experiência de estar só, sozinho no mundo. Não ficar em casa a desejar que o tempo passe depressa. Foi aí que lancei um conto, “reflexões após uma noite na balada”. Hoje releio, e vi o quanto fui presunçoso, orgulhoso e esnobe. Tenho vergonha por ter escrito algumas coisas, mas pelo menos reconheço, e não quero isso para mim, quero ser o mais humilde possível, o mais sincero e o mais amigável. Quero ter amigos, quero compartilhar meus desprezos, meus desatentos, quero sair com eles, viver com eles e morar dentro deles. E os dias se seguiram, cada vez mais amenos e com instantes de tédio. Agosto acabou, a chuva lavou os mistérios deste mês, chegou Setembro. A chuva, fenômeno tão importante, repleto de significados, cantados, lidos e visualizados por diversos artistas. Tantas canções que falam da chuva, quantos escritos que ela aparece. Parece que é até uma divindade, que purifica, renova e trás novos tempos. Depois dela, o Sol abriu-se em raios reluzentes, começando o mês de Setembro. Há uma esperança que paira no ar, no firmamento e na minha nova concepção de tempo. O mês de setembro será a gosto de todos. Terá feriado, irá até o dia 30, mas enfim, convenhamos, agosto foi cruel. Agosto não foi a gosto de todos, mas sim um grande desgosto para uns.
                             

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