quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Gosto, Desgosto e Agosto

Ultimo dia de agosto. Poderia começar contando como foi meu dia, quando acordei, ou como foi meu final de semana, até esse exato momento. Mas prefiro descrever, como as coisas foram fluindo, fazendo uma retrospectiva do mês inteiro. Não usarei uma maneira cronológica linear, de acordo com o mês. Posso começar, como meu dia começou hoje, como também, posso começar como foi esta madrugada, daqui de São Paulo. O dia, apenas uma definição astronômica, diz respeito ao nascer do Sol, ao subir o horizonte, alcançar o meridiano e, novamente se por, para que surja a noite, num ciclo eterno, que provavelmente durará mais ou menos daqui a uns quatro bilhares de anos. Posso também descrever o mês, de acordo com o ciclo lunar, quando no dia primeiro de agosto a Lua estava entrando em fase de “lua nova”, como também, precisou de necessariamente do “mês” inteiro para que esta pudesse retornar seu ciclo natural. Por sua vez, o mês também é uma definição astronômica, diz respeito às mudanças de fase da lua, quando ela realiza uma evolução em torno da Terra. Digamos então que as influências destes astros são muito pertinentes as nossas vidas diárias. Por exemplo, em fase de Lua nova, há um fenômeno da natureza relacionado às marés. Não só a Lua como o Sol, mas também a Terra, que realiza determinados movimentos. Detalhe: o dia é a rotação da Terra em torno do seu próprio eixo e que equivale a 23 horas, 56 minutos, 4 segundos e 9 centésimos. O ano, que não entra nesta crônica, representa também uma definição astronômica. O que posso destacar do ano, é uma parcela dele, isto é, dos dozes meses que o componha, falarei somente deste mês, que é agosto, ou seja, está situado numa das quatro estações do ano, que corresponde ao inverno.
Madrugada chuvosa, depois de uma tarde escura e ventuosa. Manhã do dia anterior, e sol nascente, surgido de brilho reluzente e calor a todos. Grande alegria vinda dos seus primeiros raios de luz, sem D’Alva para ser vista e apreciada antes do clarear. Sem a de Milo para também louvar a sua beleza no entardecer do dia. Ausência da vespertina no horizonte. Procura da matutina no dia seguinte, mas sem resultado: manhã fria e com a velha cara da cidade da garoa. Por onde andas a estrela de Davi? Será que está em conjunção com o Sol? Pode ser. Enquanto isso, Hermes e Ares, a governar as manhãs. E durante a noite, Júpiter e Saturno. Vênus se ausentou por esses dias. Hoje é dia de Hermes, amanhã de Júpiter, depois de Vênus. Zeus abrirá um novo ciclo. Novo mês, por todo esse firmamento. Trará boas novas, ou ruins velhas. Há dois dias atrás, era o dia de Selene, mas esta não estava presente no firmamento, era “nova”. Apesar de não está à vista, a noite foi tão maravilhosa, que fez lembrar um dia qualquer de verão. Ao debruçar-se para ter o céu sobre meus olhos, via-se uma magnífica e vislumbrada abobada celeste, repleta de estrelas. Observava-se Júpiter no horizonte nordeste, a procura de Ganimedes, Calisto, Europa e Io. Pois bem, refletir nesse exato momento: ao apontar o instrumento óptico para Júpiter, foi visto somente, talvez, Ganimedes, que é o maior satélite. “Se a luneta não tivesse sido inventada, evidentemente Galileu não a teria observado as quatro luas de Júpiter aqui na capital, pelo menos nesses tempos atuais”. A cidade transforma energias em eletricidade, em luminosidade e isso, traduz uma grande perda significante do que há no firmamento. A noite se desenlaçou, enchi minha alma de energia, dei uma nova coloração, mudei sua textura e tirei do desfoque. A sensação que tinha era que estava sobre um ritual, passando por uma espécie de leveza do peso, como dizia Milan Kundera, estava carregando uma “insustentável leveza do ser” naquelas horas. Como se houvesse uma força externa que trouxesse uma estranha alegria, espontânea e misteriosa para comigo. Enquanto isso, pássaros vinham anunciar o dia de amanhã, ouvir seus cantos tarde da noite. “Era chuva que estava para chegar”, eu pensei. E eles continuaram a seguir sua rota.
Fui pra casa, despir meu ser e me vi num reflexo sem sombra. Caminhei diante minha imagem formada. Vi que ela era simétrica a mim, estava a seis passos de onde me localizava. Procurava ver o que estava por dentro, o que regia por trás daquela imagem semelhante a mim. Dei as costas e fui dormir. “Quando certa manhã Claude Kafka acordou de sonhos intranqüilos, encontrou-se em sua cama...” não metamorfoseado num monstruoso inseto, mas desperto para um novo mundo, para uma nova visão, um andar diferente, e um caminhar novo por entre as pessoas. Cheguei ao trabalho com a sensação de que roubei uma alma infantil, toda inocente para com o mundo. Via coisas novas, ficava maravilhado, tornava a ri, a conversar a cantar, a pular de alegria. Lembrei do Poema do “menino Jesus” do Alberto Caeiro, “(...) Ele dorme dentro da minha alma; E às vezes acorda de noite; E brinca com os meus sonhos; Vira uns de perna para o ar, Põe uns em cima dos outros; E bate as palmas sozinho; Sorrindo para o meu sono (...)”. De vez em quando perco essa sensação, mas tento retornar buscá-la novamente e intensamente.
Chegou domingo, grande dia, muitas emoções. Último final de semana do mês, encontros com amigos, apresento-me e em conjunto formamos um grande sarau, que contribuiu incessantemente, para minha busca da alegria, da felicidade e que me motivou a querer mais e mais viver as novas sensações. Amo a arte, quero ser parte dela. Sinto-me à vontade, libero meu espírito poético dos poetas, libero minhas canções dos compositores, libero meu olhar para novas pontes. Não estou mais a procurar, pelo menos por enquanto, aquela estrelinha errante e bela. Não crio mais expectativas. Deixo estar e ver o desenrolar das situações, o agravamento dos casos. Os olhares espantados dos que hão de chegar. Lembro-me também a uma semana atrás, deste milagroso domingo, um sábado ao qual vivi experiências adoráveis com amigos, fui em lugares que me trouxeram sensações boas, de mais liberdade, de ânsia de viver a sonhar uma realidade concreta. Não carrego mais esse fardo, que me desequilibrava, ou melhor, carrego sim, mas não sinto seu peso com tanta força. Parece que estou sobre influência de outra gravidade.
Agosto começou no dia de Selene, aniversário de um ex-amado meu. Mas como era de se esperar, veio uma espécie de angústia, de não está ao seu lado. E nisso, os desejos e as aflições só foram me corroendo no decorrer dos dias, para chegar na quinta-feira, o segundo tombo. Numa tarde ensolarada sobre a grama, sentei a conversar no telefone, e ouvir aquela frase clássica “precisamos conversar”. Desabei em série de camadas, não me contive, chorei, desandei, estive sob um manto de ruína. Senti-me como uma escultura sem membros. Nesse momento surgiu como epifania a imagem de uma Deusa que estava acenando tchau. O dia nublou-se, ao caminhar diante as pessoas. De suas imagens que se formavam borradas sobre minha retina, o cérebro não processara direito e, que agravara uma série de dores de cabeça. Durante o percurso tortuoso que me levava para casa, ouviam-se ruídos sonoros que me agoniavam, horas trágicas, momentos de pura emoção...mas cheguei em casa, meu choro já havia cessado. O dia de Vênus chegou, estava a vagar pela solidão, pelo manto que cobria meu rosto, pela falta de sorriso entregue, dado e roubado. Dia de Saturno veio, minha primeira experiência de estar só, sozinho no mundo. Não ficar em casa a desejar que o tempo passe depressa. Foi aí que lancei um conto, “reflexões após uma noite na balada”. Hoje releio, e vi o quanto fui presunçoso, orgulhoso e esnobe. Tenho vergonha por ter escrito algumas coisas, mas pelo menos reconheço, e não quero isso para mim, quero ser o mais humilde possível, o mais sincero e o mais amigável. Quero ter amigos, quero compartilhar meus desprezos, meus desatentos, quero sair com eles, viver com eles e morar dentro deles. E os dias se seguiram, cada vez mais amenos e com instantes de tédio. Agosto acabou, a chuva lavou os mistérios deste mês, chegou Setembro. A chuva, fenômeno tão importante, repleto de significados, cantados, lidos e visualizados por diversos artistas. Tantas canções que falam da chuva, quantos escritos que ela aparece. Parece que é até uma divindade, que purifica, renova e trás novos tempos. Depois dela, o Sol abriu-se em raios reluzentes, começando o mês de Setembro. Há uma esperança que paira no ar, no firmamento e na minha nova concepção de tempo. O mês de setembro será a gosto de todos. Terá feriado, irá até o dia 30, mas enfim, convenhamos, agosto foi cruel. Agosto não foi a gosto de todos, mas sim um grande desgosto para uns.
                             

sábado, 27 de agosto de 2011

Para atravessar agosto por Caio Fernando Abreu

       Para atravessar agosto é preciso antes de mais nada paciência e fé. Paciência para cruzar os dias sem se deixar esmagar por eles, mesmo que nada aconteça de mau; fé para estar seguro, o tempo todo, que chegará setembro- e também certa não-fé, para não ligar a mínima às negras lendas deste mês de cachorro louco. É preciso quem sabe ficar-se distraído, inconsciente de que é agosto, e só lembrar disso no momento de, por exemplo, assinar um cheque e precisar da data. Então dizer mentalmente ah!, escrever tanto de tanto de mil novecentos e tanto e ir em frente. Este é um ponto importante:ir, sobretudo, em frente.
       Para atravessar agosto também é necessário reaprender a dormir,dormir muito, com gosto, sem comprimidos, de preferência também sem sonhos. São incontroláveis os sonhos de agosto: se bons, deixam a vontade impossível de morar neles, se maus, fica a suspeita de sinistros angúrios , premonições.Armazenar víveres, como às vésperas de um furacão anunciado, mas víveres espirituais, intelectuais, e sem muito critério de qualidade. Muitos vídeos de chanchadas da Atlântida a Bergman; muitos CDs, de Mozart a Sula Miranda; muitos livros, de Nietzche a Sidney Sheldon. Controle remoto na mão e dezenas de canais a cabo ajudam bem:qualquer problema , real ou não, dê um zap na telinha e filosoficamente considere, vagamente onipotente, que isso também passará. Zaps mentais, emocionais, psicológicos, não só eletrônicos, são fundamentais para atravessar agostos. Claro que falo em agostos burgueses, de médio ou alto poder aquisitivo. Não me critiquem por isso, angústias agostianas são mesmo coisa de gente assim, meio fresca que nem nós. Para quem toma trem de subúrbio às cinco da manhã todo dia, pouca diferença faz abril, dezembro ou, justamente, agosto. Angústia agostiana é coisa cultural, sim. E econômica. Mas pobres ou ricos, há conselhos- ou precauções-úteis a todos. O mais difícil:evitar a cara de Fernando Henrique Cardoso em foto ou vídeo, sobretudo se estiver se pavoneando com um daqueles chapéus de desfile a fantasia categoria originalidade...Esquecê-lo tão completamente quanto possível(santo ZAP!):FHC agrava agosto, e isso é tão grave que vou mudar de assunto já. Para atravessar agosto ter um amor seria importante, mas se você não conseguiu, se avida não deu, ou ele partiu- sem o menor pudor, invente um.Pode ser Natália Lage, Antonio Banderas, Sharon Stone, Robocop, o carteiro, a caixa do banco, o seu dentista. emoto ou acessível, que você possa pensar nesse amor nas noites de agosto, viajar por ilhas do Pacífico Sul, Grécia, Cancún ou Miami, ao gosto do freguês. Que se possa sonhar, isso é que conta, com mãos dadas, suspiros, juras, projetos, abraços no convés à lua cheia, brilhos na costa ao longe. E beijos, muitos. Bem molhados.
       Não lembrar dos que se foram, não desejar o que não se tem e talvez nem se terá, não discutir, nem vingar-se , e temperar tudo isso com chás, de preferência ingleses, cristais de gengibre, gotas de codeína, se a barra pesar, vinhos, conhaques-tudo isso ajuda a atravessar agosto. Controlar o excesso de informações para que as desgraças sociais ou pessoais não dêem a impressão de serem maiores do que são. Esquecer o Zaire , a ex-Iugoslávia, passar por cima das páginas policiais. Aprender decoração, jardinagem, ikebana, a arte das bandejas de asas de borboletas- coisas assim são eficientíssimas, pouco me importa ser acusado de alienação. É isso mesmo, evasão, escapismos, explícitos. Mas para atravessar agosto, pensei agora, é preciso principalmente nãose deter de mais no tema. Mudar de assunto,digitar rápido o ponto final, sinto muito perdoe o mau jeito, assim, veja, bruto e seco.

São Paulo (SP), agosto de 1995 - Crônica publicada no jornal - O Estado de São Paulo

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

longas conversas nestas tardes de agosto


E como já dizia Caio Fernando Abreu, esse é o mês do “cachorro louco”. E não é que parece mesmo!? Tantas coisas desencadearam para que meu estado de espírito esteja hoje como está. Sinto o peso da minha alma, a dor do coração, a ânsia do meu querer, o cheio que me tonteia de lembranças, e a música que me enfatiza e equilibra meu ser sereno nesta serenata que é a vida. Esta melodia que une como um cordão umbilical minha vida a outra vida. Percebo os dias passarem lentamente neste mês de agosto. Sei exatamente os dias que me assombraram, as horas que me assustam e, que revelam lembranças não muito desejadas no momento. Este é o mês da desordem, da desilusão, do desprezo e do descaso. O mês em que as bruxas correm soltas. São Paulo, grande metrópole urbana e caótica, quantas vidas não devem está doentes da alma? Quantas almas que já devem ter perdido o rumo e que estão desesperançosas? A cidade cheira a dióxido de carbono, está cinza. As estrelas perdem suas magnitudes, brilham cada vez menos. As pessoas cada vez mais alienadas, contidas num universo minúsculo e individual. Mas afinal, qual é a relação do mês de agosto? Bom, não existe razão nenhuma para esse alarde referente ao mês, porém se caso houvesse, poderíamos supor que há uma relação entre o período de recesso do mês passado (mês das férias de julho) e início de mais um semestre letivo. E tudo volta ao normal. Normal? Reencontros, desencontros e novidades. E o que esperar desse mês? Somente que passe, que cure, cicatrize as feridas, que emenda a alma e corrija os erros banais.
Oscilo entre a saudade e o desprezo, como um pêndulo simples. Sou cordas vibrantes em tons graves e agudos, numa sinfonia melodramática. Caminho por entre montanhas e vales, percorrendo estradas sinuosas. Passo dias e noites a desejar o incompreendido. Vejo somente as cores brancas e pretas, como se no mundo houvesse apenas esses tons. Mas, logo, logo irei renascer como um pássaro de fogo, que brotará das cinzas. Como uma flor feia que nasceu perfurando o asfalto, e que se ergueu diante os automóveis, mas apesar dos pesares é uma flor! Assim dizia Drummond em seu poema “A Flor e a Náusea”. Conversando hoje com o Caio, ele me disse respondendo a uma pergunta: “A partir de hoje, uma vida feita de fatos.” E logo em seguida, a Clarice ganha forma e fala: "Estou me interessando terrivelmente por fatos: fatos são pedras duras. Não há como fugir. Fatos são palavras ditas pelo mundo".
Passo as longas tardes de sábado pensando na vida. Converso com Caio muitas vezes. Troco idéias com a Clarice e com o Álvaro de Campos. Ouso música, lembro-me dos meus passados recentes. Associo cada letra a um momento específico, a uma pessoa, a uma situação. As lembranças vêem como numa fotografia. São registros, momentos, instantes alegres. Perco-me em meus pensamentos. Às vezes é tão bom esquecer da realidade, viver somente nos delírios da vida. A música controla minhas emoções, ela equilibra meu ego, enche minha alma de cores, bombeia meu coração, articula meus movimentos, e me dá a esperança de que tudo continua, o mês irá passar. Passará o primeiro ano, lembrarei deste, e assim serão os decorrentes dias. Dias melhores, dias piores, que sejam, mas que estejam presentes em meus caminhos. Nasço a cada instante, respiro em todos os momentos, e furto minha alma para extrair meus sentimentos mais cobiçados e escondidos lá do fundo do abismo. Uma frase que o Caio diz e hoje reflito e concordo foi: "A vida tem caminhos estranhos, tortuosos às vezes difíceis: um simples gesto involuntário pode desencadear todo um processo. Sim, existir é incompreensível e excitante. As vezes que tentei morrer foi por não poder suportar a maravilha de estar vivo e de ter escolhido ser eu mesmo e fazer aquilo que eu gosto - mesmo que muitos não compreendam ou não aceitem." Assim sendo, penso: sou uma vida somente vivendo o mês de agosto, na angustia do tempo, na espera do novo, na busca do sonho e na aceitação de si, isto é, do seu modo de ser, querer e saber das coisas. Mas parece que sempre nos encaminhamos para um “eterno retorno”. Segundo Nietzsche, a idéia de que as situações irão se repetir indefinidamente. Ou seja, estamos sempre a mercê das desilusões em que o tempo pode revelar. Estamos sujeitos a passar pelos mesmos caminhos andados, e novamente se confrontar com os desejos não adquiridos. Mas uma coisa é certa, o tempo traz a experiência, mesmo que a situação se repita, não sofrerá um dano igual ao anterior.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Reflexões Após uma Noite na Balada

Descobrir o que é viver. Descobrir que vivia até então metade da minha vida. Achava que viver fosse dar parte do seu corpo e alma à outra pessoa. Hoje, exatamente hoje, agora, penso que viver é está exatamente sozinho, ser individual, não compartilhar com o outro, agir de maneira profundamente egoísta. Amar a si mesmo, entregar-se para o vento e a noite. Não dar ao luxo de cair na tentação da outra pessoa. Viver é não está trancado dentro do quarto, lamentando o que não se deve ser lamentado. É caminhar sozinho com o passar do tempo. É conhecer lugares novos, se dispor a novas amizades, se situar numa nova fase. Ter coragem, tomar decisões, andar sempre em frente, ser cauteloso, responsável, ter consciência e acima de tudo ser racional. Aí está algo que o tempo relatou e demonstrou diante dos meus olhos, que sou uma pessoa que age puramente de maneira emocional, isto é, deixo o coração falar mais alto. Isso acaba sendo um grande problema nesses novos tempos.
Hoje parece que a humanidade está muito mais racional. Quando se trata de relacionamento, parece a meu ver que as pessoas temem amar, tem medo, algo que impossibilita de avançarem. Transformaram o amor, que até então sempre foi um sentimento emocional, numa coisa mecânica, padronizada, uniformizada. Parece que criaram um limite ao qual não se deve ultrapassar, continuar. Será por que irá tornar o destino, algo que só o tempo vai dizer, num túnel que nunca acaba? Será medo da indecisão? Infelizmente as pessoas se programam hoje pra tudo, hora de ir trabalhar, hora do almoço, hora de retornar ao trabalho, hora de voltar pra casa, ou de ir realizar uma atividade, hora de dormir e, o ciclo diário recomeça. Onde é que sobra a hora de amar? O dia tem vinte quatro horas, a semana cento e sessenta e oito horas. É assim o que acontece hoje em dia, tudo calculado.
Em tempos a tempos se aprende a viver, sonhar, conseguir o que procura. Eu não vivia, apenas compartilhava os meus gostos e prazeres por uma geração passada. Os tempos mudam, a geração muda e com isso percebo que hoje estou vivendo a geração ao qual pertence a mim. Olhava o passado e via uma década perdida. Geração esta que nem vivi, era apenas uma criança perdida na inocência do mundo e da humanidade. Quando digo que aprendi a viver, ou melhor, estou prontamente para começar uma nova fase, quero dizer que compreendi o que esta geração esperado do mundo, o que ela acha, o que procura, o que sente. À parti isso, comecei a viver e estou preparado para o que a segunda década do ano dois mil tem a me oferecer.
Vamos usufruir e degustar dos maiores prazeres deste tempo. Caminhemos de braços erguidos, de cabeça erguida, de coração excitante para novas emoções, de alma limpa para novos amores, de corpo vivo para novas estradas. Deixemos para trás as desilusões, os momentos solitários, as tristezas e os descaminhos. Caminhemos sempre avante para o desconhecido, para novas descobertas do mundo e futuras experiências.
E não é por isso que escrevo e digo: na noite passada vivi o dia mais melancolicamente feliz de todos os meus vinte e um anos. Se não fosse minha razão, hoje estaria aniquilado, me autocrucificando, me menosprezando e me rebaixando por uma pessoa que não mais significa nada diante de mim. Tenho meus status, tenho minhas qualidades. Nesses meus vinte e um anos, já carrego comigo uma grande bagagem de conhecimento. Agora, nessa nova fase, dou valor a mim mesmo, me convenço, e me orgulho de todas as coisas que faço. Tenho bons gostos, de cinema, arte, música, dança e assim vai. Tenho bom senso, sou amigável, prestativo e humilde. Depois disso tudo eu pergunto, por que me rebaixei então àquela pessoinha? Ah, foi amor, fui somente emocional. Mas enfim, esse amor será aniquilado com todo o meu repertório caindo encima. Virará cinzas, num sopro não mais existirá. Embora, vou me conter por enquanto, pois descobrir que gosto de sofrer. Assim sendo, descobrir que estou aprendendo a viver. Essa foi apenas uma reflexão de uma noite na balada, virão outras, me aguarde.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

correspondências de agosto



 Letra de música do Zeca Baleiro. 
Bandeira
Eu não quero ver você cuspindo ódio
Eu não quero ver você fumando ópio pra sarar a dor
Eu não quero ver você chorar veneno
Não quero beber o teu café pequeno
Eu não quero isso, seja lá o que isso for
Eu não quero aquele, eu não quero aquilo,
Peixe na boca do crocodilo
Braço na Vênus de Milo acenando tchau.
Não quero medir a altura do tombo
Nem passar agosto esperando setembro
Se bem me lembro
O melhor futuro, este hoje escuro
O maior desejo da boca é o beijo
Eu não quero ter o Tejo me escorrendo das mãos
Quero a Guanabara, quero o rio Nilo,
Quero tudo ter estrela, flor, estilo
Tua língua em meu mamilo, água e sal
Nada tenho, vez em quando tudo
Tudo quero mais ou menos quanto
Vida, vida noves fora zero
Quero viver, quero ouvir, quero ver
(se é assim, quero sim... acho que vim pra te ver)
"Para atravessar agosto é preciso antes de mais nada paciência e fé.
Paciência para cruzar os dias sem se deixar esmagar por eles, mesmo que nada aconteça de mau; Fé para estar seguro, o tempo todo, que chegará setembro - e também certa não-fé, para não ligar a mínima às negras lendas deste mês de cachorro louco..." (Caio F.) Para meu querido, Claude BradBury!!! PS: Obrigado Cris.

 

Lavar a alma significa: tirar as impurezas

Meu coração está dilacerado, minha alma desprendida e meu corpo mórbido e monótono.
A gente não entende porque acaba. Só percebe quando a saudade desperta, as boas lembranças vêem e os caminhos percorridos tornam-se cada vez mais tortuosos. Lutamos para esquecer, mas as primeiras horas e dias o tempo nos destroem. Procuramos o melhor para o outro e muitas das vezes esquecemos de nós mesmos. É por isso que nós amamos verdadeiramente. Sempre estamos a desejar o melhor.
Lavo minha alma com a música, recupero minha auto-estima com distrações. Enquanto o som soa dissonante no fundo do meu pensamento, lembranças brotam e se desfazem harmoniosamente. Tem vezes que a gente perde a vontade de tudo, esquece dos sonhos e age como se quisesse abdicar da vida. Tantas coisas ocorreram em minha vida em pouco menos de dois anos. Acho que até estou procurando intensamente a felicidade. E o que vejo e percebo é justamente o oposto do que quero. Encontro caminhos da desilusão, da melancolia e da morte. O que mais procuro está cada vez mais distante de mim. Assim é a vida, cheia de encontros e desencontros. É como um jogo, “nem sempre ganhando, nem sempre perdendo, mas aprendendo a jogar”. A vida é um paradigma, um jogo de relações humanas. Começa sem entender e acaba com um “game over”, mas o mais importante é que pode reiniciar. Desta vez mais experiente.
Estamos passando por um mal do século, hoje em dia as pessoas tem medo de amar, de entregar-se de corpo e alma a outra pessoa. O ruim é que estão cada vez mais desaprendendo a amar, ou melhor desamando. Tem medo de ultrapassar o limite, é como se amar fosse uma coisa inóspita. É como se amar fosse algo que não pertence mais ao nosso século, ele está obscuro, infalível.
O que sobra, são os bons momentos, os registros, os objetos que irão lembrar sempre, o cheiro, a música marcante, as fotos, os encontros empolgantes, as descobertas novas, as idas e vindas, os abraços, o afeto, o carinho e até mesmo os dias tensos, os confrontos de idéias, as discórdias, os ciúmes. Mas mesmo assim, o amor que supostamente não existiu por um lado, torna-se irremediavelmente uma peça fundamental para o fim do relacionamento. A ausência, a falta de afeto, de ternura, torna-se desnecessária. E assim vai se encaminhando, até chegar a hora, que um tem que ser forte o bastante para dar um fim nisso tudo. Obviamente iremos sofrer do mesmo jeito. E o que acontece? Nosso coração dispara em som e fúria, deixamos de ser racional, ficamos de cabeça quente e muitas das vezes falamos o que não devíamos. Mas logo conseguinte, vem o arrependimento, o processo de racionalização. Mas a alma não obedece o corpo, e assim ficamos descontrolados, em parte começamos a chorar, começamos a agir de forma egoísta, não queremos escutar o que o outro tem a dizer e, tudo se transforma numa falta de comunicação. O tempo passa e a angústia torna o elemento principal do momento. Não sabe ao certo se tudo é um sonho e que vai passar logo assim que acordar. Porém, somente estamos nos escondendo de uma situação, que inevitavelmente irá ocorrer. Situação esta, que meu coração já previa, só que tinha medo de se concretizar. O pior que a gente pressente. Confesso que naquela manhã havia acordado inseguro, aflito e um pouco já de cólera. Meu coração já havia se preparado um pouco, mas como disse: ele estava se escondendo desta realidade. Melhor seria se nada disso tivesse ocorrido. Ninguém prevê, somente pressente. Não há quem explique como começa uma paixão, mas também na há quem não entenda.
   Nada melhor do que continuar com a amizade, porque queira ou não, a pessoa te fez feliz por um determinado período de tempo. O único problema nisso tudo pode ser que a pessoa venha a se confundir de novo. Porque ele, eu e você sempre, sempre iremos ter algo que é bom, mas também pode ser ruim, que chamamos de esperança. Esperança esta, que alimenta o sonho humano. Talvez seja a esperança que nos torna seguro de nós mesmos. Mas uma coisa é certa, existe um embate entre esperança e felicidade. Á medida que procuramos a felicidade, percebemos que por um lado, iremos ficando cada vez mais sem esperança. Porque a experiência de vida te ensina muito, e com ela você aprende e percebe que se não tomar cuidado, você vai se deixar levar. Por mais que encontre a pessoa que te faça feliz, tenha a total ciência de que ela não é somente fruto de sua imaginação, não é somente uma projeção daquilo que você queria para ti, não é apenas uma imagem que você esperava dele, mas que de fato fosse somente sua. Tome cuidado com isso, não desenhe, não fantasie, pois senão vai vir o tempo em que você não mais enxergara aquela pessoa ao qual julgava perfeita. Com muita gratidão esse conto é para ti, Tiago Sávio

Flores, Primavera e Harmonia

Não meu bem, não sou mais seu anjinho. Aquela figura de cabelos cacheados, moreno, alto, não existe mais, deixou de ser um anjo. Da sua ingenuidade e inocência, transformou-se em solidão e sofrimento. Passou-se a ser, digamos: humano. Com suas características banais a mercê de uma felicidade, de um novo amor. As lágrimas derramadas amputaram suas assas, seus desejos mudaram para o ódio e arrependimento. O que fez de mim foi tornar-me mais humano. Essa sim foi a grande descoberta. O anjo que a um tempo atrás, comportava como uma criança, na inocência de falar, de enxergar o mundo, hoje já não é assim. Felizmente ele aprendeu que o sofrimento faz parte da vida. Aprendeu que o amor, pode começar de uma forma tão inesperada, assim como também pode acabar, de um dia para o outro, sem mais, nem menos. Soube conviver com o tempo, a espera do irreversível, soube encontrar no tempo, fugas, caminhos, estradas abertas e fechadas. Criou ao mesmo tempo caminhos ilusórios, que levam para o paraíso. Não aquele paraíso, de flores, primavera e harmonia, mas o verdadeiro paraíso, de angústia de dor, de mal querer. Paraíso este, que do ilusório vem a ser real. Essas flores, primavera e harmonia, é o que sempre procuramos. A medida que queremos, mais longe fica. A procura da felicidade leva ao caminho da dor e do sofrimento, passará por pântanos e mais pântanos, mas quem sabe chega lá? É isso que nos alimenta, é ruim mas parece que gostamos de sofrer.
Sempre encontraremos uma brecha nesses caminhos tortuosos, que levam para uma estrada maior ou menor, mas que sempre tem um fim. Esse fim pode ser hoje, agora, amanhã ou quem sabe daqui a uns dez, trinta anos? A vida é assim mesmo, é que nem um jogo, chega no final, ou é “you win” ou “game over”. Ou (hehehe), você tem mais uma chance. Como é cômico rir das situações humanas, como é cômico rir das desgraças alheias, ainda mais quando aquele, desesperadamente sai em busca do seu amor que não deu certo! Amigo, é “nevermore!” não se rebaixe, as vezes trocamos o certo pelo duvidoso, as vezes você terá uma segunda, terceira chance, mas não pense que chegou no paraíso, de flores, primavera e harmonia. Como num conto que li, “Que imensa miséria o grande amor - depois do não, depois do fim - reduzir-se a duas ou três frases frias ou sarcásticas. Num bar qualquer, numa esquina da vida”. Foi aí que descobrir que a vida é um romance, tem suas páginas, capítulos e, no final, acaba né? Pode ser uma série, mas acaba. O mais engraçado é que qualquer história de romance, de amor, a situação é sempre a mesma, só muda o cenário, troca os personagens. Algumas histórias são mais intensas, outras não, mas enfim são sempre iguaiszinhas. Descobrir que a minha história não é diferente e, percebo que ao ouvir outras, nos motivas a tornar-se mais experientes.  É bom chorar, quando a lágrima cessa, significa que podemos novamente nos erguer, significa que buscaremos a nossa alto estima, significa que aquela pessoa por qual você se relacionou, vai perdendo sua forma, vai se desconfigurando, se desfragmentando, tornando-se cada fez mais um objeto qualquer sem valor, que fica lá na estante recebendo poeira. Ou como também um vidro que se parte ao cair no chão, por mais que recolhemos seus cacos, não voltará ser mais o mesmo, é irreversível fazer com que todos os pedaços se juntem voltando a ser o objeto original. Mais uma vez acabo de expor minhas angustias, mas em vista do que era antes, hoje sei lidar (espero que saiba mesmo) com a vida. Bom, ponto final, até uma próxima.

As Chuvas que o Tempo Traz


            Nunca chorei por estar amando um homem. Estou agora como o tempo, chuvoso, fechado e molhado. A cada intervalo a chuva cai molhando os jardins, as casas e as ruas. Na noite anterior, o céu aberto, estrelas formando grupos de constelações, Júpiter bem visível. Caminhávamos pela praça naquela noite sem ventos. O tempo revelava meus sentimentos, a cada passo constatando meu amor que estava nascendo, a cada palavra que era pronunciada por ele, uma resposta minha adquiria. A noite foi tão bela, como meu amor foi tão forte. Caminhávamos num tempo limitado, tínhamos poucas horas para nos conhecermos melhor. Seu olhar, seus risos me reativaram um sentimento que há um tempo temo, Amar, mas principalmente amar e não ser correspondido. Essa noite foi tão reveladora dos meus sentimentos, pois soube amar um homem pela primeira vez. Gostaria que nesse dia o tempo parasse, não queria me despedir dele de forma tão rápida. O dia em si foi muito revelador pra mim, pude pela primeira vez me reconhecer, olhar a minha face oculta, expor meus desejos. O tempo estava a meu favor, tudo e todas as coisas que havia feito naquele dia se encaixavam mutuamente. Seja alguns contos que estava lendo do Caio Fernando Abreu, como também letras de músicas que me despertaram a ansiedade de conhecer aquele homem. Houve imprevistos e desencontros, mas mesmo assim o tempo estava à nosso favor, por fim nos encontramos um ao outro. Mas infelizmente minha história não teve um final feliz como aquelas do Caio Fernando Abreu. Após a despedida fomos para casa, ele pra sua, eu pra minha. Em cada hora, minuto e segundo pensava nele, estava cego do amor. Porém, durante a noite em casa, comecei a entrar numa espécie de pavor, misturada em forma de saudade. Veio de súbito um desejo de chorar, não sei se foi a chuva que estava começando a cair nessas horas, ou foi meu subconsciente que estava apontando um final diferente daqueles contos que havia lido. Comecei a chorar, a chuva começou a cair, mais uma vez o tempo revelando meus sentimentos. Queria dormir e esquecer tudo, mas não conseguia, da mesma forma que o tempo era meu amigo, agora ele era meu adversário. Ele revelava o que não queria ver. Gostaria de permanecer naquela noite sem ventos, mas não foi possível, uma hora tudo acaba.
            Até agora não tive sorte com o amor, sei que ainda sou novo, tenho 20 anos, mas sei que esse sentimento está me corroendo, de tal forma que perco cada vez mais as esperanças. Claro que cedo ou mais tarde poderei conhecer alguém que me complete, mas por que não agora? Por que esperar pelo tempo? Esperar pelo tempo é sarar suas feridas e, não conhecer outra pessoa que possa amá-lo como amou. Cada vez mais tenho medo de amar, é tão ruim esse sentimento. Pode variar de pessoa à pessoa, alguns entram em depressão, outros perdem a fome (meu caso). De que adianta ter estudos, ser inteligente, como fui apontado e, não poder ser amado? É lamentável gostar de alguém que não gostou com a mesma intensidade. O tempo me pregou uma peça, me manipulou e estar agora me atormentando. Choro a cada intervalo. Espero que isso passe rápido, não agüento mais esse sentimento. Sou muito fechado, não tenho nenhum amigo que possa me confortá-lo, estou precisando de alguém para me desabafar. Por isso estou escrevendo, assim amenizo a dor que estou sentindo, mas não é o suficiente, quero falar com alguém, mas não consigo e, isso faz de mim agora uma pessoa que quer se isolar, se reprimir e perder a sua auto-estima.
            O tempo irá curar, mas vai amputar mais um pedaço dos meus sentimentos. Cada lágrima escorrida é uma porcentagem do amor que estar sendo desperdiçado. Não irei guardá-las, mas elas serão misturadas com a chuva que vai caindo nessa tarde de São Paulo do dia 06 de novembro de 2010. Será que para cada gota d`água desta chuva há uma pequena fração de lágrimas de outras pessoas? Então a gente pode ver esse sentimento caindo nas casas, nas ruas, nos automóveis, ouvindo seus barulhos no interior de cada objeto sólido. Como é bom e ruim amar, e como é desprezível ter um final que não planejou, que não foi da forma que sonhava ou que pensava viver uma realidade plausível. Não houve química entre a gente, não teve um gostar de homem pra homem. Tudo bem se o fator determinante foi a idade, mas não via problema algum nisso. Gostei de você foi pela sua experiência, sua vivência, não importava a diferença das idades. Estava predestinado a abrir mão de algumas coisas para ficar com você, viveria a mesma vida que estou vivendo, mas com acréscimo de uma pessoa. Quando juntos, somos mais forte que o tempo, não cairemos nas suas peças. Separados, o tempo é traíra, tende a menosprezar, a se rebaixar, e sentir-se mau. Enfim, esta foi a minha história de amor, nada fantasiado e inventado, claro que me utilizei de metáforas para explicar meus sentimentos, mas foi dessa forma que encontrei para me safar, me esquivar desses bons e maus tempos.