quarta-feira, 18 de julho de 2012

idéia i déia i d éia i d é ia i d é i a

Produção, duração, ação. Precisa disso, isso, para criar, saltar, desatar, respirar, ar. As idéias surgem, urgem para serem expressas, dessas que vão, são e ficam por aí. Com objetivos, ativos, vivos, serão lidas, vistas e discutidas. Bem-vindas expressarão opinião, união do jeito que são. Mas quando morrem, doem. As idéias são guardadas, dadas, e perdem o sentido, tido. Porém, além, vêem sempre outras produções, durações, ações...

terça-feira, 17 de julho de 2012

Não há Padrão



               Entra em cena um personagem singular, trajado com uma saia vermelha, de saltos altos, cabelos volumosos e loiros, batom vermelho-fogo, rosto retangular, pele morena, seios moderados, de altura entre 1,80m a 1,85m, tragando um cigarro, sempre de lado, ou de costa para a plateia. Deslocava-se pelo palco, que era preenchido de uma mesa retangular ao centro, com uma cadeira. Os sons produzidos por cada passo andado revelavam certa obscuridade ainda sobre a personagem. Ela para de repente de frente aos espectadores e diz: - Meu nome é Edi Macedo, sou homossexual, tenho 27 anos, e estou vestido assim, não porque todo homossexual se vista assim, mas muito pelo contrário, estou assim só para relatar como esta figura é bastante significativa, como ela está muito presente na nossa sociedade, na mídia, nos esteriótipos que já estamos acostumados a ver. - Não gosto de dar o cu, não é porque sou homossexual que irei gostar. Minha última relação foi bastante boa, era eu, e Franco, dois ativos, - Quem disse que não dá certo? fique sabendo que nós satisfazíamos dos prazeres sexuais muito bem, sem um precisar ser ativo, ou passivo, hora éramos, depois invertíamos, e por fim, sempre um, e o outro, no mesmo tempo, ou um minutinho depois chegaríamos ao orgasmo. – Esta roupa me deixa afeminado, mas seria uma mulher por conta disso? o fato deu aparentar isso, seja porque gosto de dar o cú? e por que? Por acaso toda mulher dar o cu, é todo travesti que quer dar? – Sou bicha, viado, baitola, é esse os nomes que sempre aparecem na mídia e nos papos de rua, bar, qualquer lugar, e até mesmo, e isso chega até ser pior, nos próprios meios.
Diante do público, os espectadores sentados em seus assentos, extasiados com os pequenos relatos, aguardavam entusiasmados para ver qual seria o próximo passo da bicha, depois que a mona tirou a sua peruca. E para completar a viadagem, esse público alvo eram os dos próprios meios, alguns se levantaram e saíram.
- Sempre gostei de homens, mas só fui descobrir isso aos 19 anos, não quero dizer que comecei a desejar os homens nesta idade, eu simplesmente não me aceitava, assim como muitos que conheci, e outros que até hoje se escondem. Nossa educação não foi preparada para os gays, somos filhos de pais heteros, e todos os valores que temos são dessa sociedade cristã que inferiorizam as mulheres, e tratam como se fossem doenças os homossexuais.
Enquanto o traveco relatava com uma série de monólogos, mais o público se envolvia nesta afetação, mas agora em relação ao repúdio a esta construção social. Sempre observando a figura, agora sem os brincos da orelha, e os saltos-altos, os sons dos passos cessaram, enquando a coisa andava de uma ponta a outra, no limite do palco.
– Franco morreu, vitima de HIV. Tenho esta doença a cinco anos. Quando conheci Franco, simplesmente aconteceu, foi relaxo, descuido talvez, de achar que sexo oral não contraria a doença. Ele sabia da possibilidade, mas não quisemos se prevenir. - Eu simplesmente só olhava pra ele, o amor que tinha era bem mais forte que qualquer outra doença. Mesmo sabendo, depois que o médico disse que era positivo, eu não entendia até então o grau de que isso pudesse interferir na minha vida. Depois de um tempo, na mesma época que Franco começou a deixar mais em evidencia a sua doença, foi que descobrir. - Querido público, não olhe assim pra mim, não pensem que está com AIDS vou contagiá-los. Tenho a minha vida pela frente, não sei até quando irei sobreviver, mas aproveito do tempo que me resta para, assim como muitos outros, Caio Fernando, Freddie Mercury, Cazuza, Renato Russo, etc, viver a vida da melhor maneira possível, aliás, não sei se eles conseguiram. -E uso deste meio para torna-lo em evidencia o quanto somos ainda excluídos desta esfera religiosa e social. – Se vocês vieram pensando que isso seria um espetáculo, uma performance, rica em imagens e cores, fique agora sabendo, que essas cores estão no imaginário de cada um.
O publico, com ar de constrangimento, mais uma vez se surpreende com a figura, que já não lembrava mais o travesti, mas um meio termo, como uma viadinha mal vestida. Sentado com um cigarro na mão, e depois posto num cinzeiro ao seu lado, a bicha muito lentamente começou a descer a meia-calça, revelando a sua perna, nem depilada, onde mais uma vez o público olhava-o com uma mistura de sensações.
 – A dois anos atrás, num seminário da faculdade, relatei uma situação, que é incompreendidos pelos padrões sociais e religiosos, o caso dos transsexuais. d’EUs não aceitava isso de forma alguma, eu a principio também não, isso ia contra a natureza. Foi quando numa enchente de perguntas, e mais perguntas, umas entrando em conflitos com as outras, que percebi que vivo numa lógica social de que as coisas devem ser certinhas, devem se encaixar, devem ser fáceis de compreender, foi então que compreendi o quão estávamos enclausurados por esta cadeia de costumes “corretos”. – Tiro esta roupa, e me vejo, e reflito como muitas vezes somos condicionados a aceitar um sistema repressor e nada fazer para mudar. Preciso da ajuda de vocês espectadores, isso não é apenas uma performance de um ator que fará a personagem de um travesti, muito pelo contrário, é o travesti que fará a personagem do ator, - Aquele que cujo papel, para um teatro critico, é encenar a nossa realidade como ela é.
Uma quantidade significativa já haviam se retirado dos seus assentos, mas no momento, as bichas que ainda restavam ali presentes, puderam ver a baitola, agora de costa para a plateia novamente, tirando um dos últimos adereços de seu corpo, a sainha. Ficando agora semi-nua, de calsinha fio-dental. Já não se observava mais um travesti, com exceção aquele traje feminino que ainda o carregava.
– Se espantam em me ver assim, semi nu, é isso? Sou homossexual, e esse corpo é masculino, não há porque falar, achar, duvidar de que seja igual a de qualquer um do mesmo sexo.
E tirando o último adereço, agora estando completamente nú, o viado evoca ao público – E agora, podemos ser tratados com mais respeito?
Fim do primeiro ato.

Kaith Vaughan

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Medo da Eternidade - Clarice Lispector



Jamais esquecerei o meu aflitivo e dramático contato com a eternidade.

Quando eu era muito pequena ainda não tinha provado chicles e mesmo em Recife falava-se pouco deles. Eu nem sabia bem de que espécie de bala ou bombom se tratava. Mesmo o dinheiro que eu tinha não dava para comprar: com o mesmo dinheiro eu lucraria não sei quantas balas.
Afinal minha irmã juntou dinheiro, comprou e ao sairmos de casa para a escola me explicou:
- Tome cuidado para não perder, porque esta bala nunca se acaba. Dura a vida inteira.
- Como não acaba? - Parei um instante na rua, perplexa.
- Não acaba nunca, e pronto.
- Eu estava boba: parecia-me ter sido transportada para o reino de histórias de príncipes e fadas. Peguei a pequena pastilha cor-de-rosa que representava o elixir do longo prazer. Examinei-a, quase não podia acreditar no milagre. Eu que, como outras crianças, às vezes tirava da boca uma bala ainda inteira, para chupar depois, só para fazê-la durar mais. E eis-me com aquela coisa cor-de-rosa, de aparência tão inocente, tornando possível o mundo impossível do qual já começara a me dar conta.
 Com delicadeza, terminei afinal pondo o chicle na boca.
- E agora que é que eu faço? - Perguntei para não errar no ritual que certamente deveira haver.
- Agora chupe o chicle para ir gostando do docinho dele, e só depois que passar o gosto você começa a mastigar. E aí mastiga a vida inteira. A menos que você perca, eu já perdi vários.
- Perder a eternidade? Nunca.
O adocicado do chicle era bonzinho, não podia dizer que era ótimo. E, ainda perplexa, encaminhávamo-nos para a escola.
- Acabou-se o docinho. E agora?
- Agora mastigue para sempre.
Assustei-me, não saberia dizer por quê. Comecei a mastigar e em breve tinha na boca aquele puxa-puxa cinzento de borracha que não tinha gosto de nada. Mastigava, mastigava. Mas me sentia contrafeita. Na verdade eu não estava gostando do gosto. E a vantagem de ser bala eterna me enchia de uma espécie de medo, como se tem diante da idéia de eternidade ou de infinito.
Eu não quis confessar que não estava à altura da eternidade. Que só me dava aflição. Enquanto isso, eu mastigava obedientemente, sem parar.
Até que não suportei mais, e, atrevessando o portão da escola, dei um jeito de o chicle mastigado cair no chão de areia.
- Olha só o que me aconteceu! - Disse eu em fingidos espanto e tristeza. - Agora não posso mastigar mais! A bala acabou!
- Já lhe disse - repetiu minha irmã - que ela não acaba nunca. Mas a gente às vezes perde. Até de noite a gente pode ir mastigando, mas para não engolir no sono a gente prega o chicle na cama. Não fique triste, um dia lhe dou outro, e esse você não perderá.
Eu estava envergonhada diante da bondade de minha irmã, envergonhada da mentira que pregara dizendo que o chicle caíra da boca por acaso.
Mas aliviada. Sem o peso da eternidade sobre mim.

Foto: Paula Rego

fragmentos soltos


"Dessa vez não vou evitar dizer o que está na minha cabeça só porque eu sei que minha mente 'aquariana' vai negar no dia seguinte, não fugirei de palavras bonitas porque quem diz não é uma pessoa perfeita, não arrumarei mil defeitos pra brigar contra as novecentas e noventa e nove qualidades, não desviarei meus olhos por medo de ter minha mente lida, não sumirei por medo de desaparecer, não vou ferir por medo de machucar, não serei chato por medo de você me achar legal, não vou desistir antes de começar, não vou evitar minha excentricidade, não vou me anular por sentir demais e logo depois não sentir nada, não vou me esconder em personagens, não vou contar minha vida inteira em busca de ter realmente uma vida.
Dessa vez não vou querer tudo de uma vez, porque sempre acabo ficando sem nada no final. Estou apostando minhas fichas em você e saiba que eu não sou de fazer isso. Mas estou neste momento frágil que não quer acabar. Fiquei menos cafajeste, menos racional, menos eu. E estou aproveitando pra tentar levar algo adiante. Relacionamentos que não saem da primeira página já me esgotaram, decorei o prólogo e estou pronto pro primeiro capítulo. " Caio F. Abreu

quinta-feira, 5 de julho de 2012

    Incrivel como uma massa de gente consegue se reunir, em praça pública, organizar um telão, a projetar por pequeno aparelho, imagens de torcedores fanáticos e jogadores em euforia para uma final das libertadores. Provoco a sequinte reflexão. O resultado surpreendente, que não é tão assim, irá melhorar as nossas condições de vida? na praça que acordará na manhã sequinte, não existirá mais mendingos? pois estes ganharam um abrigo onde neste inverno, que não é tão inverno assim possam sobreviver. É dessa forma que acontece? o timão, que é do povão, trará boas novas pra nós? o quanto ganhamos com isso? é um jogo, ou não é?
     Fiquei maravilhado ao ver uma união de gente, todos parecidos, com bandeiras, cartazes, camisas. Alegres como deviam ficar, tão cheias como a lua, e contentes por uma liberdade conquistada.
     Num momento delirante pensei que essa mesma massa poderia, lutar, reinvindicar, e sair nas ruas em prol a uma sociedade mais igualitária. Perguto a vocês. Esse jogo, esse resultado, fará alguma diferença nas nossas vidas? sairei nas ruas e não serei mais vítima de preconceitos? sou mulher e o meu papel na sociedade será reconhecido? quanto vale um jogo? qual é sua influência na política e na vida privada?
     hoje a madrugada festeja, pessoas a caminharem por passos tortos, sons a emitirem uma constância frequência. Vozes dissonantes ao fim da rua. E bem baixinho, daqui do quarto da minha casa "...Salve o Corinthians, O campeão dos campeões, Eternamente dentro dos nossos corações..." Afinal, até que ponto fomos transformados?