quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Ó Capitão! Meu Capitão! (Ó Captain! My Captain!) Walt Whitman

Ó Capitão! Meu Capitão! (Ó Captain! My Captain!)
Walt Whitman

Ó capitão! Meu capitão! terminou a nossa terrível viagem,
O navio resistiu a todas as tormentas, o prêmio que
buscávamos está ganho,
O porto está próximo, ouço os sinos, toda a gente está
exultante,
Enquanto segue com os olhos a firme quilha, o ameaçador e
temerário navio;
Mas, oh coração! coração! coração!
Oh as gotas vermelhas e sangrentas,
Onde no convés o meu capitão jaz,
Tombado, frio e morto.

Ó capitão! meu capitão! ergue-te e ouve os sinos;
Ergue-te – a bandeira agita-se por ti, o cornetim vibra por ti;
Para ti ramos de flores e grinaldas guarnecidas com fitas –
para ti as multidões nas praias,
Chamam por ti, as massas, agitam-se, os seus rostos ansiosos voltam-se;
Aqui capitão! querido pai!
Passo o braço por baixo da tua cabeça!
Não passa de um sonho que, no convés,
Tenhas tombado frio e morto.

O meu capitão não responde, os seus lábios estão pálidos e imóveis,
O meu pai não sente o meu braço, não tem pulso nem vontade,
O navio ancorou são e salvo, a viagem terminou e está concluída,
O navio vitorioso chega da terrível viagem com o objetivo ganho:
Exultai, ó praias, e tocai, ó sinos!
Mas eu com um passo desolado,
Caminho no convés onde jaz o meu capitão,
Tombado, frio e morto"

(Tradução de Maria de Lurdes Guimarães)

(nota: ao Jair, grande professor de história!)

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Morte dos Girassóis

Gostaria de escrever um poema;
Um poema que fosse repleto de poesia;
Poderia começar a dizer que vivo em moema;
E para rimar viveria em maresia.

Mas assim a rima fica fácil;
É que na verdade moro no grajaú;
Como preciso ser ágil;
Diria que guardo um baú.

Nele encontra todo o mistério;
Minha vida,
Meus amigos,
Minhas músicas,
E meus familiares.

Esse baú poderia ser como a caixa de pandora;
Quando abro saem todas as lembranças;
Não os males do mundo,
Terremotos, erupções e chuvas,
Mas saudades, amores e girassóis.

Gostaria de fazer uma poesia que falasse dos girassóis
Das margaridas,
Das orquídeas,
Das rosas.

E isso só quando penso em girassóis;
Caso contrário faria uma poesia sobre a morte,
A violência,
O preconceito,
E a intolerância.

Muitos diriam que não seria uma poesia;
Se falasse da violência que gera o preconceito;
Que cria a intolerância;
E que leva até a morte.

Na semana passada, por exemplo, João Paulo foi morto a vinte e três facadas,
Dois tiros na cabeça,
E os órgãos arrancados;
Encontrado num terreno baldio.

No último pôr do Sol deslumbrante, João Paulo encontrado no terreno de girassóis,
Manchados de pigmentos vermelhos,
Perfurados por várias regiões do corpo,
Foi levado ao ML.

Joao Paulo morreu repleto de poesia,
Suas imagens foram divulgadas no D’Atena,
Depoimentos dos familiares que reconheceram seu corpo foram arquivados,
Trabalhador, pai de família, deixou uma criança de sete meses e uma de quatro anos.

Os girassóis nunca mais nasceram,
O Sol não amanheceu,
É tempo de lutos.