O último que soube foi meu Pai. Os demais saberão
por bocas, fofocas, e hipóteses. O primeiro fui eu, na verdade já sabia, mas
não me esforçava a acreditar que as coisas eram assim. Nadar contra a
correnteza, não é fácil. É entregar-se a sermões silenciosos, e confusos. É ser
submetido a séries de terapias espirituais, sociais e familiares. O peso da
palavra “contei”, vou “contar” ou quaisquer das outras variações é evolutiva.
Tantas vezes rasas por contar, que acabou se dissolvendo, e fortalecendo morais
sólidas. O que esperar da reação? A suposta cara, o suposto choque, o respirar
silencioso, como se alguém tivesse morrido. Esse é o peso que é carregado por
gerações, como sedimentos. É o peso do fundamentalismo, da pseudociência, de
ser olhado como diferente, como fossemos contagiosos, e patológicos
desequilibrados da ordem cristã, judaica e islâmica, entre outras. Digerir as
informações do verbo contar, ou melhor, ouvir as informações que partem de uma
ação, que é contar ao outro, que ouve, não é fácil. Pois bem, o último que
soube foi meu Pai. Os demais saberão com o tempo. Fofocas familiares correm à
solta, fulano, sicrano, e beltrano farão parte da dilatação da informação. As
hipóteses serão julgadas pelas amizades, músicas ouvidas, e redes sociais. É
difícil crescer numa sociedade, e ser colocado numa ordem determinada que as políticas
doutrinadas julgam-se através de valores éticos e morais, mesmo criando uma
identidade para pertencer a um determinado grupo. O que aprendemos hoje, é que
não há padrões nas naturezas humanas. Evoluímos racionalmente na história, e é
justamente isso que nos torna inclassificáveis. Será que o período que vivemos
atualmente é tão insolúvel? Na arte, nas ciências naturais e na mente humana. A
humanidade caminha, e vetores humanos querem barrar, criar uma resistência. Mas
mesmo assim, caminha. Com muito sangue, e muita morte, novamente veremos algum
dia o monólito de “2001: uma odisséia no espaço”. Aquele que apareceu na frança
em 1779 lembra? E que pisou na Lua em 1969 lembra? A humanidade caminha para a
real aceitação da liberdade de expressão. Os vilões desta história querem
resistir com os seus livros teológicos. Morte ao Deus-Homem. Só assim, quem
sabe, as mortes por padrões sociais serão aniquiladas.
Podendo pensar na globalização como meio de
unificação das relações humanas, pois vejo que ela também nos possibilitará
conhecer outras culturas, e assim, refletir os valores éticos e morais que
varia de região em região. Chegando a conclusão de quantas verdades absolutas
existem, e quantos sangues derramados por maneiras banais foram desperdiçados
ao longo da história humana. E que infelizmente isso de certa forma contribuiu
para nossa evolução racional. E com essa análise, não podemos cometer os mesmo
erros já cometidos tantas vezes nas nossas vidas. Não podemos regredir
racionalmente. Acima de tudo, o que contamos nada mais é que sentimentos,
anseios, desejos e alívios de não mais poder suportar esse peso. O último que
soube foi meu Pai. Pois é, geração não-acostumada, despreparada, e alienadas
socialmente, e religiosamente, fazem aquela cara de pavor. A primeira coisa que
veio em mente foi um cientista da idade média falando que a Terra não é o
centro do universo, e as pessoas ao redor chamando-o de herege, e crucificando-o
na fogueira. Hoje esse exemplo é banal, mas por esse e único motivo, muitos
morreram. Dizer que é gay, é o mesmo que dizer que a Terra não é o centro do
universo. Dizer que é uma mulher, é o mesmo que dizer que o Sol é uma, entre
bilhares de outras estrelas. A humanidade hoje, em analogia a da idade média é
a mesma nas questões de identidade. E esse é o próximo passo para caminharmos
nesse tempo prigoginiano.
Hudinilson Jr.